UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

30 de junho de 2012

“MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA” (The Wild Bunch) – FRACASSO OU SUCESSO?


As produções de certos filmes se transformam em verdadeiras odisséias, como foi o caso de “Meu Ódio Será Sua Herança”. Do início do roteiro, passando pela tumultuada filmagem em locações nas cidades mexicanas de Torreón, Parras e Durango, até a chegada às telas dos cinemas, o western de Sam Peckinpah mexeu com os nervos de todos os envolvidos na produção. Porém muito mais que as dúzias de caixas de vodka e de tequila que Peckinpah consumiu nos quase dois anos dedicados a “The Wild Bunch”, o que mais deu dor de cabeça ao diretor foram os resultados de bilheteria alcançados pelo filme quando de seu lançamento. Segundo os dados divulgados pela Warner Bros. “Meu Ódio Será Sua Herança” teria sido um fracasso. Mas será isso verdade?

A temida Pauline Kael, crítica de
cinema da revista "The New Yorker".
POUCO ENTUSIASMO INICIAL - “Meu Ódio Será Sua Herança” teve exibições especiais, chamadas de ‘previews’ em maio de 1969, quase um ano depois de terminadas as filmagens. Após essas exibições tiveram início as histórias que diziam que espectadores abandonavam a sala de exibição e alguns até vomitavam horrorizados com o que viam na tela. O filme tinha nessas exibições prévias 150 minutos de duração e Peckinpah foi forçado a excluir algumas cenas, reduzindo “The Wild Bunch” em seis minutos. Em 28 de junho de 1969 o filme foi finalmente lançado comercialmente em apenas um cinema em Los Angeles e outro em Nova York, sendo imediatamente saudado por boa parte da crítica como um marco cinematográfico. Assim pensavam os críticos das revistas ‘Time’, ‘Life’ e da prestigiosa ‘The New Yorker’ (Pauline Kael) e do jornal 'The New York Times'. Não faltou, porém, quem dissesse que o filme era “o maior banho de sangue que o cinema já havia mostrado”, criticando acerbamente a violência exibida no filme. Isso deve ter ajudado a afugentar os espectadores quando em seguida “The Wild Bunch” foi lançado no Texas com intensa campanha publicitária que, à época custou 200 mil dólares (hoje um milhão e duzentos e cinqüenta mil dólares). Ao lançar o filme no Texas, a Warner Bros. procurava imitar o que era feito com os faroestes estrelados por John Wayne que eram primeiramente lançados naquele Estado onde faziam sucesso que repercutia nos outros Estados norte-americanos. Mesmo com o prenúncio de más bilheterias, o filme de Peckinpah foi lançado em 440 cinemas de todo o país. Depois de duas semanas de exibição com pouco entusiasmo do público, a Warner Bros. determinou que as cópias de “Meu Ódio Será Sua Herança” fossem recolhidas pelos distribuidores.

O crítico e cineasta inglês
Alex Cox e o big boss da
Warner, Steve Ross.
EXIBIÇÃO COM ‘INTERMEZZO’ - É importante lembrar que os lucros da Warner Bros. haviam caído de dez milhões de dólares em 1967 (hoje 62 milhões de dólares), para meros 300 mil dólares em 1968 (dois milhões de dólares corrigidos hoje), o que provocou a venda do estúdio em 1969. Steve Ross, o novo dono implantou uma política administrativa diferente da anterior, política que não demorou a ser sentida e sobrou exatamente para Sam Peckinpah. Os distribuidores ingleses que viram “Meu Ódio Será Sua Herança” na semana inicial de lançamento em Nova York, exigiram que na Inglaterra o filme fosse igualmente exibido como ‘road-show’, o que quer dizer em poucos cinemas mas com tratamento de superprodução. E assim, em Londres, “The Wild Bunch” teve direito a cópia em 70 mm, som stereo (raro na época) e até mesmo um intermezzo entre a primeira e segunda parte do filme. A crítica inglesa liderada por Alex Cox reconheceu o novo western de Peckinpah como o melhor filme do ano. Mesmo assim a Warner Bros. não sabia o que fazer com aquele elefante branco que não dava lucro.

Nota do editor - Os valores em dólares que aparecerem neste texto do próximo parágrafo em diante estarão atualizados devidamente corrigidos pela inflação.

Grandes sucessos de 1969: "Bravura
Indômita", "Butch Cassidy", "Bob & Ted &
Carol & Alice", "Perdidos na Noite",
"Sem Destino" e "Se Meu Fusca Falasse".
OS GRANDES SUCESSOS DE 1969 - Ocorreram muitas mudanças na produção de filmes a partir de 1969 e um dos motivos dessas mudanças foi o road movie “Sem Destino” da Columbia, dirigido por Dennis Hopper, que custou dois milhões e meio e rendeu 375 milhões. Outro filme da Columbia de produção relativamente barata e que deu muito lucro foi “Bob & Ted & Carol & Alice”, que custou 12,5 milhões e rendeu 188 milhões. “Meu Ódio Será Sua Herança” havia custado, segundo informações iniciais da Warner Bros., 40 milhões e a baixa arrecadação obtida até então era um indicativo claro que os executivos da Warner Bros. estavam com uma bomba nas mãos. Era preciso desativar essa bomba antes que ela explodisse e causasse danos ainda maiores para o estúdio. Enquanto isso outros estúdios nadavam em lucros de filmes como “Butch Cassidy e Sundance Kid”, que custou à 20th Century-Fox os mesmos 40 milhões que o filme de Peckinpah, mas rendeu a fortuna de 605 milhões. A Paramount gastou 22 milhões para produzir “Bravura Indômita” e faturou 126 milhões nesse que foi o último grande sucesso de bilheteria de John Wayne no cinema. Outros filmes que deram boas bilheterias em 1969 foram “Perdidos na Noite” (MGM), que custou 22,5 milhões e rendeu 280 milhões; “Se Meu Fusca Falasse” (Walt Disney), que custou 12,5 milhões e foi um estouro nas bilheterias onde alcançou 320 milhões. Todos os estúdios ganhavam dinheiro, menos a Warner, mais uma razão para fazer o western de Peckinpah pelo menos se pagar.

Acima Phil Feldman e abaixo uma
das muitas cenas cortadas.
TESOURA ÁGIL - Phil Feldman, produtor ligado à Warner foi o homem que possibilitou a Sam Peckinpah torrar os 40 milhões de dólares no México com “Meu Ódio Será Sua Herança”. Sam e Feldman eram grandes amigos. Sam confiava em Feldman e este admirava profundamente o trabalho de Sam. E foi Feldman o escolhido pela Warner Bros. para transformar “The Wild Bunch”, que tinha 144 minutos de duração, num filme mais comercial. Feldman comandou o trabalho da reedição, conseguindo cortar doze minutos do western, o que deixou satisfeitos os executivos do estúdio e, claro, endoideceu ainda mais “Crazy Sam”. Ao saber da trama Peckinpah perguntou a Feldman o que estava acontecendo e o ‘amigo’ lhe garantiu que ninguém mexeria em “The Wild Bunch”. A Warner Bros. não fez o chamado ‘recall’ do filme, autorizando que os distribuidores em cada grande cidade procedessem aos cortes a partir de uma orientação do estúdio. As mais de 500 cópias do filme sofreram então mutilações de todo tipo, nem sempre obedecendo os cortes ‘autorizados’ por Feldman que deveriam excluir a sequência da batalha entre as tropas de Mapache (Emílio Fernández) e as de Pancho Villa, os flash-backs lembrados por Pike Bishop (William Holden) e parte da cena passada na aldeia onde viveu Angel (Jaime Sánchez). Segundo Peckinpah esses cortes deixaram o filme incompreensível mas para a Warner Bros. ele ficou muito melhor, graças às tesouras de todo território norte-americano comandadas por Feldman, o amigo de Peckinpah. Essas mesmas cópias vieram a circular indistintamente por outros países, levando diferentes espectadores a ver um filme com diferentes edições.

George Lucas e John Milius (à esquerda);
Martin Scorsese (à direita), entusiasmados
admiradores de "Meu Ódio Será Sua Herança".
“MELHOR QUE RASTROS DE ÓDIO" - Lançado com nova metragem em todo o país e no Canadá com resultados distantes dos esperados, “Meu Ódio Será Sua Herança” havia contabilizado em seu primeiro ano de exibição apenas 47 milhões. Isso significa que matematicamente o filme não deu prejuízo e sim um pequeno lucro de sete milhões. Mas na Matemática do estúdio deveriam ser ainda incluídos nas despesas com “Meu Ódio Será Sua Herança” os gastos com distribuição, e a ‘mutilação’ das novas cópias, além de outros custos adicionais, somando um total de outros discutíveis 36 milhões. Além do produtor Phil Feldman, também Peckinpah e William Holden tinham, por contrato, direito a porcentagens do lucro líquido do filme. Como a Warner Bros. mostrava os imensos números vermelhos na rentabilidade daquele faroeste, nenhum dos três conseguiu um centavo além dos salários recebidos. Pouco visto nos cinemas, “Meu Ódio Será Sua Herança” adquiriu o status de obra-prima numa espécie de boca-a-boca promovido por gente como Martin Scorsese, John Millius e George Lucas. O diretor de “Guerra nas Estrelas” era um dos mais entusiasmados com o filme de Peckinpah, afirmando em entrevistas que aquele era “o melhor filme da história do cinema, melhor até que Rastros de Ódio”.

Sam e Bill Holden
DIVIDENDOS A LONGUÍSSIMO PRAZO - Opiniões como essas obrigaram o relançamento mundial de “Meu Ódio Será Sua Herança’ ocorrido em 1976. Mais 52 milhões foram então contabilizados, mas segundo a complexa matemática da Warner Bros. “The Wild Bunch” continuava no vermelho. Dada a importância do western de Peckinpah, ocorreram outros relançamentos, até a morte do diretor, em 1984. Para azar de Sam, somente seus herdeiros é que passaram a receber dividendos referentes aos direitos de Peckinpah como diretor do filme, o mesmo acontecendo com Bill Holden, falecido em 1981. O produtor Feldman, que faleceu em 1991, teve mais sorte e recebeu alguns milhares de dólares liberados pelos contadores da Warner Bros.

"The Wild Bunch" no Espaço Unibanco em
São Paulo em 1996; abaixo o Dome.
A CAMPANHA DE SCORSESE - Já nos anos 90, Martin Scorsese encabeçou um movimento pela restauração de “Meu Ódio Será Sua Herança”, com sua metragem original de 144 minutos e 38 segundos, em cópia remasterizada e com som Dolby. Em 1995 cinéfilos do mundo todo puderam assistir “The Wild Bunch” no cinema novamente, com a chamada ‘director’s cut’ ainda melhorada tecnicamente. Em Los Angeles o relançamento ocorreu no Cinerama Dome. Outras 15 cidades norte-americanas (entre elas Nova York, São Francisco, Chicago e Boston) foram selecionadas para homenagear o filme de Peckinpah com novas exibições. Aqui em São Paulo essa cópia de “Meu Ódio Será Sua Herança”, foi exibida em 1996 durante um festival comemorativo ao cinquentenário da Warner Bros. e o cinema escolhido foi o Espaço Unibanco, na Rua Augusta. Durante uma semana o público pode apreciar um filme de cada gênero produzido pela Warner Bros., que sempre esteve entre os três maiores estúdios produtores de filmes. E foi no Espaço Unibanco Augusta que pude, finalmente, assistir à versão completa de “Meu Ódio Será Sua Herança” num cinema de verdade. Esse western extraordinário cresce consideravelmente quando assistido em tela grande e confesso que foi um momento de grande emoção. Até então conhecia-se o filme de Peckinpah em versões de 123, 132, 138 e 141 minutos e dependo da sorte o espectador conhecia uma versão mais ou menos próxima da original.

INFLUÊNCIA DE TODA UMA GERAÇÃO - Essas exibições mais recentes de “Meu Ódio Será Sua Herança” renderam mais um mihão de dólares. Lançado em VHS e mais tarde em DVD e em Blue-Ray, “The Wild Bunch” nunca saiu de catálogo, constando das coleções de qualquer cinéfilo de verdade. Kip Dellinger, que era gerente de negócios de Sam Peckinpah em 1972, afirmou em 1995 que pelas suas contas “Meu Ódio Será Sua Herança” rendera por volta de 165 milhões dólares, o que faz com que esse faroeste não seja exatamente um fracasso. Após todas as trapalhadas e piruetas que o estúdio conseguiu arquitetar, não há dúvida que, mesmo não sendo um sucesso de bilheteria, o filme deu lucro para a Warner Bros. Talvez um lucro pequeno, incompatível mesmo com a grandeza desse faroeste que é não só um dos grandes filmes do gênero mas de toda a história do cinema. E se ‘Crazy Sam’ Peckinpah não viveu para saborear plenamente a glória de “The Wild Bunch”, ele bem sabia que havia feito um filme incomum, que causou impacto em toda uma geração de cineastas. Certamente isso ele sabia.


Acima Sam Peckinpah dirigindo Robert Ryan e Albert Dekker;
abaixo Ernie Borgnine procura fugir do sol inclemente de Parras;
abaixo Peckinpah caminha com Cliff Coleman e o 'amigo' Phil Feldman
(com a bengala) e que bem merecia umas bengaladas de 'Crazy Sam'.

27 de junho de 2012

SÉRIES WESTERNS DA TV - "O PALADINO DO OESTE" (HAVE GUN - WILL TRAVEL)


Uma série de TV de sucesso é cancelada quando a audiência começa a cair, o que geralmente acontece depois de duas ou três temporadas quando o programa deixa de ser novidade. Com a série “O Paladino do Oeste” (Have Gun – Will Travel) aconteceu diferente pois ela saiu do ar após seis temporadas quando ainda fazia enorme sucesso nos Estados Unidos e nos países em que era exibida. O leitor quer saber qual a razão do término de “O Paladino do Oeste”? A série terminou porque Richard Boone, que interpretava ‘Paladin’, se cansou e não mais queria ser o herói do famoso cartão postal onde se lia Have Gun – Will Travel / Wire Paladin, San Francisco (Ando armado e posso viajar / Telegrafe para São Francisco).

O refinado pistoleiro Paladin.
PISTOLEIRO COM SENSO DE JUSTIÇA - Os escritores Sam Rolfe e Herb Meadow escreviam para programas de rádio, passando na década de 50 a produzir histórias para a televisão. Criaram juntos um personagem diferente de todos até então mostrados nas séries westerns de TV, o Paladino. Tão duro e certeiro com seu Colt .45 quanto elegante e culto, o Paladino gostava de ópera e recitava poemas de Keats e Shelley, além de trechos de peças de Shakespeare. A cultura do Paladino era surpreendente para um homem do Oeste pois era um perfeito gourmet e conhecedor de vinhos, podendo discorrer até mesmo sobre objetos da dinastia Ming e se expressar em diversos idiomas. O seu nome verdadeiro ninguém conhecia e era conhecido apenas por Paladino, vivendo de alugar sua arma para quem pudesse pagar bem. Mas mesmo sendo um pistoleiro de aluguel o Paladino tinha um código moral claro e extremado senso de justiça, podendo ser considerado um Paladino da Honra e da Decência. Caso percebesse que estava trabalhando para um contratante desonesto, voltava-se contra este, mesmo que nada viesse a receber. Sabia-se do Paladino que ele cursara a Academia de West Point e lutara na Guerra Civil, mas jamais se descobriu se fora confederado ou yankee. Era um autêntico homem misterioso.

Paladino e Hey Boy;
Bonne e Bob Steele;
Boone com Victor McLaglen
e Andrew V. McLaglen.
RESIDENTE DO CARLTON HOTEL - A série “O Paladino do Oeste” estreou no dia 14 de setembro de 1957, exibida pela Columbia Broadcasting System – CBS. Na primeira temporada “O Paladino do Oeste” ficou entre os cinco programas de maior audiência na TV norte-americana na medição da Nielsen Ratings. Nas três temporadas seguintes a série criada pela dupla Rolfe e Meadow esteve sempre entre os três programas mais vistos, ao lado de “Caravana” e “Gunsmoke”. Nas duas últimas temporadas “O Paladino do Oeste” continuou sempre entre os dez primeiros colocados, sendo o último capítulo exibido em 3 agosto de 1963. Foram produzidos no total 226 episódios em preto e branco com 25 minutos de duração. O principal diretor da série foi Andrew V. McLaglen que dirigiu 125 episódios. O próprio Richard Boone dirigiu 28 episódios nas últimas temporadas da série. Além do protagonista que participou de todos os episódios, o ator Kam Tong participou de 109 episódios. Kan Tong interpretava ‘Hey Boy’, um serviçal do Hotel Carlton, onde o Paladino ocupava uma suíte. ‘Hey Boy’ era quem avisava o Paladino que alguém estava precisando de seus préstimos profissionais. O Hotel Carlton era o mais luxuoso de San Francisco, evidenciando que o estranho hóspede ganhava bastante bem e trajava-se com refinada elegância.

INIMITÁVEL PERSONAGEM - O bom gosto do Paladino era refletido não só nas comidas e vinhos que lhe eram servidos, mas também nos seus ternos bem cortados, camisas e complementos de seu vestuário. Em ação, no entanto, o Paladino vestia roupas azul-escuro que na projeção pareciam pretas, mas o que mais chamava a atenção naquele pistoleiro era seu cinturão, também preto, com sua inconfundível marca encravada na cartucheira. A marca do Paladino era uma peça de xadrez, mais exatamente o cavalo branco. Essa era a marca impressa em seu cartão de visitas, o que completava o refinamento desse atípico pistoleiro, único em tantas séries e mesmo filmes para o cinema. Certamente o Paladino foi, de alguma forma, imitado mas como imitar Richard Boone? Dono de voz grave e que impunha autoridade, Boone tinha ainda o olhar penetrante como o aço que desmontava qualquer oponente e o bigode que lhe conferia um toque diabólico. Este blog, em uma das primeiras postagens, publicou a biografia de Richard Boone sob o título de “Richard Boone, Vilão Cruel e Amedrontador”, o que ele de fato foi em praticamente quase toda sua carreira. Porém nas séries de TV em que participou ele esteve sempre do lado do bem, como na série “Medic” (1954-1956), em que era o Dr. Konrad Styner; ou no “The Richard Boone Show” (1963-1964), série na qual interpretava personagens diferentes em cada episódio; e na série “Hec Ramsey” (1972-1974) em que Boone era o Sheriff Hec Ramsey.


Muito antes dos doutores Kildare e Ben Casey, Richard Boone havia
levado a profissão para a TV com a série "Medic"; abaixo Paladin
contracena com Richard Boone.

A série de rádio; abaixo John Dehner
com o Paladino; o dublê Hal Needham.
PAPEL PARA RANDOLPH SCOTT - Mesmo parecendo insubstituível como Paladino, Richard Boone não foi a primeira opção de Rolfe e Meadow que queriam Randolph Scott como protagonista. Scott, porém, era ator e produtor de seus filmes, o que lhe rendia muito dinheiro, declinando do convite para atuar na TV. Sorte de Richard Boone que, por sinal, contracenou com Randy em “Resgate de Bandoleiros”, em 1957. Scott e Boone já haviam atuado juntos também em “Arizona Violento”. Uma curiosidade a respeito de “O Paladino do Oeste” é que, ao invés de passar do rádio para a TV, como era normal ocorrer, depois do enorme sucesso do personagem criado por Richard Boone, a série foi levada para o rádio. Quem interpretou o Paladino nos 106 episódios levado ao ar pelas ondas médias e curtas ouvidas nas rádios norte-americanas foi John Dehner, um dos atores de voz mais bonita de Hollywood. Boone e Dehner usavam bigodes quase iguais. Assim como John Wayne, com quem Boone atuou três vezes no cinema, Richard não gostava muito de cavalos, mesmo montando relativamente bem. Sempre que possível era substituído nas cenas a cavalo por seu dublê na série, Hal Needham, que também participou como ator de 46 episódios. Embora nunca tivesse dito seu nome verdadeiro, num episódio o Paladino encontra um ex-companheiro de Guerra Civil e é por ele chamado de ‘Bob’, indicativo que o Paladino poderia chamar-se ‘Robert’.

Caricatura de Richard 'Paladin' Boone pelo traço de Al Hirschfeld.
À direita o cantor-compositor Johnny Western.
MÚSICA MARCANTE - A série “O Paladino do Oeste” teve um marcante tema musical intitulado “Ballad of Paladin”, de autoria de Johnny Western em parceria com Sam Rolfe e Richard Boone. Se Rolfe e Boone colaboraram de verdade na composição, isso ninguém é capaz de afirmar, mas o fato é que ambos ganharam muito dinheiro como parceiros de Johnny Western, que foi o intérprete da música que fez enorme sucesso. Entre os diversos maestros que fizeram trilhas musicais para a série "Have Gun - Will Travel" está Bernard Hermann, um dos mais importantes compositores para o cinema. O jovem Jerry Goldsmith também colaborou compondo trilhas para muitos episódios. Diferentemente de outras séries famosas, entre elas “Gunsmoke” e “Bonanza”, “O Paladino do Oeste” buscava sempre locações diferentes, sendo bastante extensa a lista de locais em que os episódios eram filmados. Muitas séries westerns de TV são hoje, merecidamente consideradas clássicas. Entre elas destaca-se “O Paladino do Oeste” com a certeza absoluta que não teria sido assim se não fosse estrelada pelo excelente Paladino, digo, Richard Boone.




24 de junho de 2012

MERCADORES DE INTRIGA (South of St. Louis), O FAROESTE DOS SININHOS NAS BOTAS


Nos final dos anos 40 ainda se fazia westerns ‘A’ com roteiros sem maior preocupação com psicologismos, moda que dominaria o gênero na década seguinte. Um ótimo exemplo é “Mercadores de Intriga” (South of St. Louis), dirigido por Ray Enright, nome bastante conhecido pelos fãs de faroestes. Enright, que começou a carreira de diretor em 1927, na Warner Bros., era nome certo para filmar um faroeste agradável, movimentado e, o que era bom para o estúdio, sem estourar orçamento e semanas de filmagem. Ray Enright vinha de quatro westerns com Randolph Scott (“O Passo do Ódio”, “A Volta dos Homens Maus”, “Águas Sangrentas” e “Romântico Defensor”), quando a Warner Bros. o escalou para dirigir Joel McCrea no papel principal de “Mercadores de Intriga”. Além de McCrea, Enright teve nas mãos um elenco de qualidade muito acima daqueles que estava acostumado a dirigir e o resultado foi um western que não decepciona nenhum fã do gênero.
 



Zachary Scott, Douglas Kennedy e Joel McCrea.
DESUNIÃO NA GUERRA CIVIL - Os autores do roteiro de “Mercadores de Intriga” são Zachary Gold e James R. Webb, este último roteirista de westerns memoráveis como “O Último Bravo”, “Vera Cruz” e “Da Terra Nascem os Homens”, entre outros. Webb foi também o autor do roteiro do suspense clássico “O Círculo do Medo”. “MercadoresZacharyde Intriga” conta a história de três amigos e sócios no rancho “Three Bell” e para demonstrar a amizade os três usam pequenos sinos nas esporas, sinos que tilintam quando os amigos caminham. São eles: Kip Davis (Joel McCrea), Charlie Burns (Zachary Scott) e Lee Prince (Douglas Kennedy). A ação se passa durante a Guerra Civil e quando o trio se afasta do rancho, o bandido Luke Cotrell (Victor Jory), espécie de guerrilheiro mercenário a serviço da União, queima o Three Bell Ranch. Os amigos dos sininhos têm então uma dupla missão que é conseguir dinheiro para reconstruir o rancho e acertar contas com Cotrell. Rumam então para Brownsville, cidade fronteira ao México e que se encontra bloqueada pelo Governo da União. Brownsville é próxima de Matamoros, cidade mexicana onde se encontra Cotrell, agora a serviço das forças sulistas.

Alexis Smith
A FATAL ROUGE – Seduzidos pela possibilidade de ganhar dinheiro fácil, Kip e Charlie tornam-se contrabandistas de armas a serviço da cantora de saloon Rouge de Lisle (Alexis Smith). As armas são trocadas por fardos de algodão com o Exército Confederado, algodão que será contrabandeado para a Inglaterra. Lee, por sua vez se alista como soldado sulista. Mais tarde Kip e Charlie se desentendem e se tornam inimigos, o mesmo acontecendo com Lee que entende que os ex-sócios estão contra as forças confederadas. Slim Hansen (Bob Steele), bandido que pertenceu ao bando de Cotrell, passa a ser braço direito de Charlie Burns. Kip se defronta com Cotrell mas quem mata o mercenário atirando uma faca em suas costas é Slim. Com o fim da guerra Lee Prince se torna Texas Ranger e se vê ameaçado por Burns, por Slim e pelo resto do bando. Kip decide ajudar Lee no tiroteio final e Burns surpreendentemente muda de lado mas é morto por Slim. O filme termina com Kip Davis e Rouge de Lisles juntos com o projeto de reconstruir o Three Bell Ranch e Lee Prince casa-se com Deborah Miller (Dorothy Malone), antiga namorada de Kip.

Joel McCrea e Zachary Scott;
Douglas Kennedy e Bob Steele.
GUERRA CIVIL COMO PANO DE FUNDO - O enredo de “Mercadores de Intriga” pode parecer complicado mas é fácil de ser assimilado, mesmo nas alternâncias que ocorrem com os personagens principais. A Guerra Civil funciona perfeitamente como pano de fundo justificando todas as mudanças que não param de ocorrer, especialmente as traições aos ideais de amizade. E também o que não para de ocorrer neste western são sequências intensamente movimentadas, ora com soldados (dos dois lados da Civil War), luta em saloon, confrontos em Brownsville e em Matamoros, e com o aguardado tiroteio em que os rapazes dos três sininhos voltam a se reunir para enfrentar o grupo de bandidos. E tudo isso com a retumbante trilha sonora de Max Steiner, uma das melhores produzidas no estilo antigo de trilhas puxadas para o sinfônico mas tornando as imagens mais emocionantes ainda. E que esplêndida cinematografia tem “Mercadores de Intriga”, cujo autor é o austro-húngaro Karl Freund, num de seus últimos trabalhos para o cinema. Freund, para quem não se recorda, foi o cinegrafista de filmes como “A Última Gargalhada”, “Metrópolis”, “Drácula” de 1931, “A Dama das Camélias”, de 1936, “Conflito de Duas Almas”. Karl Freund inventou o sistema de cinegrafia para a televisão com a série “I Love Lucy”.

Dorothy Malone
CARACTERES DISCUTÍVEIS - “Mercadores de Intriga” é de certa forma um western precursor dos personagens amorais como heróis pois poucos no filme deixam de ser um pouco egoístas ou pior que isso. Bem cedo os amigos portadores dos sininhos nas botas mostram facetas incompatíveis com os sempre idealistas mocinhos. Kip (McCrea) refuta o amor da namorada Deborah (Dorothy Malone) para tornar-se contrabandista de armas; Rouge de Lisle (Alexis Smith) não tem o menor pudor em usar sua beleza para seduzir yankees, sulistas, civis ou quem quer que possa interessar a seus propósitos, sendo desleal com todos eles; Charlie Burns (Zachary Scott) é o pior dos três amigos com sua ambição desmedida e, se necessário, mata mesmo soldados sulistas; até a devotada enfermeira Deborah, ao recusar casamento com Kip e se casar com Lee Prince (Douglas Kennedy), não deixa de visar maior segurança ao lado de um homem que tem um emprego; Alan Hale, o dono do saloon é outro que dança ao sabor das notícias mais recentes sobre a guerra; sem falar em outros personagens menores. Digno, verdadeiramente é o personagem de Douglas Kennedy que durante o filme não abre mão de seus princípios. Todos os personagens, mesmo os de caráter discutível tornam-se de alguma forma simpáticos, residindo aí o charme maior de “Mercadores de Intriga”.

Alan Hale ironizando a altura de Bob Steele.
O BAIXINHO BOB STEELE - Os principais vilões deste western de Ray Enright roubam quase todas as cenas em que aparecem. O destaque inicial é para o maléfico Victor Jory, logo sobrepujado pelo discreto mas sinistro e mais ameaçador Bob Steele. E que prazer assistir o ‘Battling Bob’ dos antigos faroestes-B mostrar que é bom ator e que poderia ter sido muito melhor aproveitado no cinema. E Bob ainda é insultado em cena quando o trio do sininho diz a Alan Hale que todos haviam crescido; Alan Hale vira-se maldosamente para o diminuto Steele que está num canto e pergunta: “E ele?” O excelente desempenho de Joel McCrea já é uma rotina nos filmes desse raramente reconhecido grande ator. A surpresa fica mesmo por conta de Zachary Scott, desta vez contido nos seus excessos. Douglas Kennedy, o terceiro a usar sininho leva o espectador a se perguntar porque não teve mais evidência como ator de faroestes com seu porte que é um misto de Rod Cameron e Sterling Hayden.

A BELEZA DAS PERNAS FINAS - Não há disputa entre as mocinhas, ainda que em certa cena Alexis Smith pergunte a Joel McCrea se Dorothy Malone é bonita. Ambas contracenam uma única vez disputando Joel McCrea. Dorothy desta vez longe daqueles irresistíveis personagens que sabia criar como ninguém. E Alex Smith, também distante dos personagens que interpretou em sua carreira está deslumbrante como a saloon-girl empresária e poucas vezes um western mostrou uma 'mocinha' tão bonita. A lamentar que suas pernas excessivamente finas mostradas no palco do saloon não complementem condignamente seu belo rosto. Creditada em algumas fontes como tendo sido dublada em três das canções do filme com sua própria voz, Alexis Smith afirmou em entrevistas que ela próprio havia cantado. E duas das músicas são cantadas no mesmo saloon de Alan Hale: “Yankee Doodle”, para os soldados nortistas e “Dixie”, para os sulistas. ‘Business is business’ é um pouco a filosofia de “Mercadores de Intriga”.

OS MOCINHOS DOS TRÊS SININHOS - Se há algo que impede “Mercadores de Intriga” de ser um western maior é seu forçado e sentimentalesco final com Charlie (Zachary Scott), decidindo se juntar aos antigos sócios do Three Bell Ranch e morrendo nos braços de Kip (McCrea). E mesmo a idéia dos três sininhos não é lá muito compatível com a rude vida de cowboys donos de ranchos e menos ainda com atores como McCrea, Scott e Kennedy. Está certo, Hollywood exigia finais felizes e se esse não foi um final feliz, ao menos castigou o redimido mau caráter. Quanto ao adorno usado pelos três amigos, que bela sugestão essa para aqueles cowboys que gostavam de usar vestimentas enfeitadas e afetadas que usavam e abusavam dos exageros.
 

Douglas Kennedy, Zachary Scott e Joel McCrea. Abaixo Joel McCrea
entre Alexis Smith e Dorothy Malone.

21 de junho de 2012

R.G. ARMSTRONG – O INTOLERANTE DOS WESTERNS DE SAM PECKINPAH


Ele é um daqueles atores que podem ser classificados na lista dos “Rostos que não esquecemos e nomes que não lembramos”. Comum também é alguém exclamar quando ele surge na tela: “Esse ator sempre faz papel de louco!” E essa impressão se deve às tantas vezes em que R.G. Armstrong interpretou pregadores intransigentes e enlouquecidos atacando os pecadores, grande parte dessas atuações em faroestes e quatro deles dirigidos por Sam Peckinpah.

NADA DE IGREJA - Robert Golden Armstrong nasceu no dia 7 de abril de 1917, no condado de Wylam, em Birmingham, no Alabama. O pequeno Robert cresceu vendo seu pai tratar os filhos com extrema violência, agredindo-os fisicamente todos os dias e Robert apanhava junto. Os pais de Robert eram cristãos fundamentalistas e o sonho da senhora Armstrong era ver o filho Robert num púlpito pregando as lições da Bíblia. O problema é que isso nunca agradou ao menino que cresceu numa fazenda do Alabama. Quando foi para o colégio Robert era um dos mais altos e mais fortes da sua turma, destacando-se no futebol norte-americano. Ao chegar à faculdade o grandalhão Robert se interessou pela Literatura e passou a escrever poesia e peças para teatro, chegando mesmo a atuar em algumas delas. Recrutado pelo Exército, Robert adiou seus planos artísticos até retornar da II Guerra Mundial quando conseguiu uma bolsa na Universidade da Carolina do Norte, conseguindo o grau de Mestre em Arte Dramática. Naquela Universidade Robert ensinou por um ano mas não queria ensinar e sim ser um autor inspirado como seu ídolo William Faulkner.

AJUDA DE ELIA KAZAN - A vida teatral norte-americana centrava-se em Nova York, para onde Robert G. Armstrong se mudou e conheceu Eva Marie Saint que o introduziu no Actor’s Studio. Em 1954 Armstrong foi tentar a sorte em Hollywood e sua estréia no cinema se deu numa produção independente de baixo orçamento chamada “Garden of Eden”. Sem novas oportunidades na capital do cinema, Armstrong retornou a Nova York onde fez parte do elenco da peça “Gata em Teto de Zinco Quente”. Essa peça era o maior sucesso da Broadway, com Elia Kazan dirigindo o texto de Tennessee Williams que atingiu 694 apresentações. Já reconhecido como bom ator, Armstrong foi convidado para o papel principal de uma nova peça de Tennessee Williams que se chamou “Orpheus Descending”. Como muitos atores oriundos do Actor’s Studio faziam sucesso no cinema, lá foi Armstrong tentar novamente a sorte em Hollywood, só que desta vez ajudado por Elia Kazan. O famoso diretor lhe conseguiu um pequeno papel em “Um Rosto na Multidão” estrelado por seu ex-colega de turma da Universidade da Carolina do Norte, o ator Andy Griffith.

Acima Armstrong em "Caçada Humana"
com Don Murray e Malcolm Atterbury na
foto; abaixo com Audie Murphy.
PRIMEIROS FAROESTES - Em 1958 Robert Golden era um homem maduro, já com 41 anos. No teatro havia adotado o nome artístico de R.G. Armstrong e com esse nome trabalhou bastante na TV e no cinema. Foi nesse ano que R.G. atuou em “Império de um Gângster”, que tinha no elenco o jovem Steve McQueen. Foi nesse ano também que R.G. estreou num gênero novo para ele, o faroeste e o filme foi “Caçada Humana” (From Hell to Texas), de Henry Hathaway. Nesse western Armstrong tem um papel de destaque interpretando um sádico rancheiro. Em 1959 Armstrong era um dos únicos amigos do pistoleiro interpretado por Audie Murphy em “Balas que Não Erram” (No Name in the Bullet). Relembrando os tempos da Broadway, R.G. interpretou mais uma vez um personagem de Tennessee Williams, desta vez em “Vidas em Fuga”, em que era um sheriff que o rebelde personagem de Marlon Brando respeitava. O rosto diferente de R.G. Armstrong começava a se tornar familiar no cinema.


R.G. Armstrong em "Vidas em Fuga", com Marlon Brando; abaixo o judiado
Jaguar XK-120 de Joanne Woodward com Marlon e R.G. observando.

R.G. acima em "Pistoleiros do Entardecer";
no centro com o 'Major Dundeea Charlton
Heston; abaixo enxotando 'Cable Hogue'
Jason Robards.
ENCONTRO COM SAM PECKINPAH - Em 1960 um fato importante ocorreria na carreira de R.G. Armstrong e não foi a sua participação no western “Ten Who Dared”, com Ben Keith e Ben Johnson no elenco. Foi nesse ano que Armstrong atuou no segundo episódio da série “The Westerner”, série criada e dirigida por um jovem chamado Sam Peckinpah. O diretor percebeu que R.G. possuía uma pouco comum expressão no olhar. Aquela expressão diabólica que Peckinpah sempre admirou. Sam e R.G. ficaram amigos e o próximo trabalho do diretor seria no cinema com o filme “Pistoleiros do Entardecer” (Ride the High Country). Nesse western havia para Armstrong um papel que ninguém faria melhor que ele, o de um fanático seguidor da Bíblia. Novamente dirigido pelo amigo Peckinpah, Armstrong praticamente repetiu o papel de fanático religioso em “Juramento de Vingança” (Major Dundee). Foram dezenas as participações de R.G. em séries de TV, mas na série policial “T.H.E Cat”, estrelada por Robert Loggia, Armstrong interpretou um Capitão da Polícia em doze episódios. Em 1966, mostrando versatilidade, R.G. foi um simpático fazendeiro em “Eldorado”, contracenando com John Wayne. Depois de alguns filmes menos notáveis, em 1970 R.G. se reencontrou com Sam Peckinpah em “A Morte Não Manda Recado” (The Ballad of Cable Hogue), interpretando um banqueiro sovina e sem visão comercial. Nesse mesmo ano R.G. atuou em “A Grande Esperança Branca”, drama sobre boxe de Martin Ritt.

R.G. em "Pat Garrett e Billy the Kid";
no centro com Luke Askew, Cliff Robertson e
Wayne Sutherlin em "Sem Lei e Sem
Esperança"; abaixo com Terence Hill
em "Meu Nome é Ninguém".
R. K. ARMSTRONG - Quando um filme torna-se Cult é porque poucos o assistiram. Esse foi o caso de “Sem Lei e Sem Esperança” (The Great Northfield Minesotta Raid) em que R.G. Armstrong tem um dos principais papéis como um bandido que se junta aos irmãos James e Younger. Muito aclamado também foi o filme seguinte de R.G. Armstrong, pela quarta e última vez sob a direção de Sam Peckinpah, “Pat Garrett and Billy the Kid”. Neste western primoroso R.G. em uma memorável atuação interpreta um sheriff que descarrega seus tormentos pessoais no prisioneiro Billy the Kid. Daí em diante R.G. Armstrong se tornou um dos atores coadjuvantes mais disputados do cinema e muitos roteiristas criavam personagens pensando nele. Nessa época R.G. havia se divorciado da primeira esposa, com quem permaneceu casado por 10 anos e com quem teve seus quatro filhos. Em 1973 o ator se casou novamente e fez sua única experiência no cinema europeu, numa pequena mas marcante atuação em “Meu Nome é Ninguém” (Il Mio Nome è Nessuno), estrelado por Henry Fonda. Acostumados a trocar nomes, a produção italiana creditou Armstrong nesse spaghetti-western como R. K. Armstrong. Com os faroestes em baixa, R.G. Armstrong atuava sem parar em outros gêneros, sempre se impondo com seu rosto de poucos amigos e olhar aterrador. Entre esses filmes os mais importantes foram “O Céu Pode esperar”, com Warren Beatty e “O Guarda-Costas”, de Bob Rafelson, com Jeff Bridges. 1976 marcou o fim do segundo casamento de Armstrong que entrava nos seus 60 anos de idade.

Uncle Lewis Vendredi
ASSUSTAR É MINHA PROFISSÃO - Assim como se tornara amigo de Sam Peckinpah, R.G. Armstrong era também bastante estimado por Warren Beatty que nos anos 80 era um dos nomes mais fortes do mundo do cinema. Beatty chamou Armstrong para a superprodução “Reds”, que apesar do grande elenco foi mal nas bilheterias. O alemão Wim Wenders contou com R.G. no elenco de seu filme norte-americano “Hammett – Mistério em Chinatown”, de 1982. Em 1984 R.G. participou de “Colheita Maldita”, baseado em história de Stephen King. Em 1986 R.G. interpretou um general em “Predador”, um dos muitos sucessos de bilheteria de Arnold Schwarzenegger. Na série de TV canadense “Sexta-Feira 13” R.G. Armstrong apresentou-se para a nova geração de espectadores criando o assustador 'Tio Lewis Vendredi' que não deixava ninguém dormir sem sobressaltos após assisti-lo na série.

Acima R.G. Armstrong como 'Pruneface';
abaixo fotos mais recentes.
HOMEM AFÁVEL E EDUCADO - Um dos grandes sucessos do cinema de 1990 foi “Dick Tracy”, dirigido e produzido por Warren Beatty que o chamou para interpretar o cruel 'Pruneface' E Armstrong, ao lado de B'ig Boy Caprice '(Al Pacino), 'Mumbles' (Dustin Hoffman) e 'Flattop' (William Forshyte), formou um time incomparável de vilões que infernizaram a vida do famoso detetive criado por Chester Could para as histórias em quadrinhos. Depois de se divorciar da segunda esposa, em 1976, Armstrong só voltaria a se casar em 1993, então beirando os 80 anos. A nova esposa era uma moça 30 anos mais nova que fez o ator muito feliz. E mesmo octogenário Armstrong não parava de trabalhar, no cinema e na TV, como na refilmagem de “O Homem da Máscara de Ferro”, de 1998. Em 1999 R.G. Armstrong apareceu em “Purgatório”, western feito para a TV estrelado por Sam Shepard. Em 2001, aos 84 anos, R.G. fez o papel principal no terror “The Waking”, filme pouco digno para encerrar uma carreira tão brilhante em que assustou o público em mais de 80 filmes. Curiosamente, Robert Golden Armstrong, o ‘Bob’ para os amigos, é um homem afável, educado, caloroso, completamente diferente dos tipos que criou nos filmes. Armstrong ficou viúvo em 2003 e somente abandonou o cinema e os palcos devido a ter ficado praticamente cego. Bob completou 95 anos em abril último. Mas seus pequenos olhos nunca saíram das retinas dos cinéfilos, mesmo daqueles que não lembravam seu nome.

R.G. Armstrong e seus pequenos e penetrantes olhos.

19 de junho de 2012

ROLETA FATAL (THREE YOUNG TEXANS) – TRIÂNGULO AMOROSO NO VELHO OESTE


Marilyn, Barbara. Susan e
Joan Crawford em papéis
importantes nos faroestes.
Território predominantemente masculino, os faroestes viram as atrizes ganhar destaque nos westerns no início dos anos 50. Barbara Stanwyck em “Almas em Fúria” (1950), Susan Hayward em “Correio do Inferno” (1951), Marlene Dietrich em “O Diabo feito Mulher” (1952) e até mesmo Doris Day em “Ardida Como Pimenta” (1953) são exemplos desse fenômeno. Em 1954, claramente os estúdios decidiram privilegiar os personagens femininos fazendo com que eles deixassem de ser meramente o interesse romântico dos heróis dos faroestes. E tivemos nesse ano atrizes famosas em papéis de maior importância como Barbara Stanwyck em “Montana, Terra do Ódio”, Susan Hayward em “Jardim do Pecado”, Joan Crawford em “Johnny Guitar” e “Marilyn Monroe em “O Rio das Almas Perdidas”. Seguindo essa tendência Mitzy Gaynor, mesmo sem possuir o status das atrizes citadas, teve papel destacado em “Roleta Fatal” (Three Young Texans), sendo o primeiro nome dos créditos desse pequeno western. Melhor teria sido a talentosa Mitzy Gaynor ter permanecido nos musicais que a 20th Century-Fox produzia e onde ela cantava e dançava maravilhosamente pois os faroestes, decididamente, não eram seu reduto. “Roleta Fatal” comprovou esse fato, tanto que nunca mais Mitzy participou de outro western.


Mitzy e Hunter, emprestados pela Fox.
A TURMA DA FOX - “Roleta Fatal” foi a segunda produção da recém criada Panoramic Productions, produtora de Leonard Goldstein. A Panoramic se especializou em produzir filmes de pequeno orçamento e Goldstein conseguiu para “Roleta Fatal” um acordo com a Fox que, em troca da distribuição do filme, lhe emprestaria atores e técnicos e seria filmado na cidade cenográfica do estúdio. Isso explica as presenças de Mitzy Gaynor e de Jeffrey Hunter no elenco, além do diretor Henry Levin e do maestro Lionel Newman contratados do estúdio dirigido por Darryl F. Zanuck. A Panoramic Productions produziu um total de dez filmes entre 1953 e 1955, entre eles os faroestes “Corações Divididos”, com Van Johnson e Richard Boone; “Vingança Terrível”, com Lee Marvin e Van Hefllin; “Eu me Vingarei”, com Dale Robertson; “A Lei do Bravo”, com Robert Wagner e Jeffrey Hunter. A presença de Henry Levin na direção deveria trazer uma expectativa positiva pois mesmo sendo um típico diretor de estúdio, realizou alguns bons trabalhos na Fox. São de Henry Levin o bom western “O Bandoleiro Solitário”, com Jack Palance e Anthony Perkins e o delicioso “Viagem ao Centro da Terra”, com James Mason. A impressão que fica após se assistir “Roleta Fatal” é que Levin se esforçou o mínimo para realizar um western de melhor qualidade apesar da boa história que tinha nas mãos.

Aaron Spelling, Harvey Stephens e Michael Ansara.
TRAMA INTRINCADA - O roteirista Gerald Drayson Adams é o autor dos roteiros de “Onde Impera a Traição” (Audie Murphy), “O Levante dos Apaches” (Jeff Chandler), “Herança Sagrada” (Rock Hudson), entre outros westerns. Desta vez Drayson Adams escreveu um roteiro mais complexo e que renderia um excelente filme policial, contando a história de um assalto a trem realizado com a melhor das intenções. Jim Colt (Harvey Stephens) trabalha para a estrada de ferro na estação de Twin Buttes e sabe quando ocorrerá o transporte do pagamento dos soldados do Exército. Além de ferroviário, Jim é também um jogador e numa partida de pôquer dispara contra Bill McAdoo (Frank Wilcox), um outro jogador, acreditando tê-lo matado. As testemunhas são os maus elementos Apache Joe (Michael Ansara) e Catur (Aaron Spelling) que dizem a Colt que ele matou McAddo. Para não testemunhar contra Colt os bandidos o forçam a participar do roubo do trem que leva o soldo da tropa. Johnny Colt (Jeffrey Hunter), o filho de Jim Colt, descobre a trama e ele próprio assalta o trem com a intenção de impedir que o ajude a concretizar o assalto. Johnny pretende posteriormente devolver o dinheiro roubado. Mas Johnny é amigo de Tony Ballew (Keefe Brassellle) e ambos são amigos de Rusty Blair (Mitzy Gaynor), formando o trio do título original “Three Young Texans”. Mais que isso, os três formam um estranho e indefinido triângulo amoroso. Tony se apodera do dinheiro roubado pelo amigo Johnny mas não fica com o dinheiro pois Apache Joe e seus asseclas Catur e McAddo se apossam do dinheiro após matar Tony Ballew. Rusty Blair descobre a trama e ajuda a inocentar Johnny Colt que com o auxílio do xerife Carter (Dan Riss) acaba por liquidar o bando de Apache Joe, inocentando Jim Colt.

TRIÂNGULO RASO - O que faz de “Roleta Fatal” um western desinteressante é o tratamento dado por Henry Levin à história, tornando inteiramente previsível uma história que contém boa dose de mistério. E mesmo a subtrama que envolve os três jovens texanos é mal conduzida e não se descobre quem gosta de quem no triângulo. É sempre bom lembrar que em 1954 o Código Hays começava a dar sinais de fraqueza o que permitia que diretores e roteiristas mais criativos colocassem na tela temas ainda proibidos, mesmo em faroestes. Tony Ballew gosta bastante do amigo Johnny Colt e sonha em irem juntos para a Califórnia, quiçá mesmo acompanhados pela jovem Rusty. Nada porém é aprofundado nesse triângulo situação pouco sutilmente sugerido. Some-se a isso as cenas de ação filmadas de forma quase amadorística por Levin e captadas sem brilho pela cinematografia de Harold Lipstein. Lionel Newman, por sua vez, poucas vezes produziu uma trilha musical tão sem força.

DESPERDIÇANDO MITZY GAYNOR - Jeffrey Hunter foi dos poucos atores de sua geração que tiveram a sorte de filmar três vezes com John Ford, uma delas foi nada menos em “Rastros de Ódio”. Num certo momento parecia que Hunter se tornaria um grande astro, chegando mesmo a interpretar Jesus Cristo e “O Rei dos Reis”. Jeffrey era um ator que expressava virilidade combinada com uma certa sinceridade, mas jamais passou de uma grande promessa não plenamente concretizada. E é de Jeffrey Hunter a melhor interpretação do filme, o que não significa muito diante dos demais nomes do elenco. Keefe Brasselle passou a carreira indeciso entre imitar James Dean e Kirk Douglas, indecisão que levou sua carreira a lugar nenhum. Já a adorável Mitzy Gaynor foi talvez o maior desperdício de talento artístico de Hollywood. Graciosa, cantava e dançava como poucas e era engraçadíssima, mas quando atingiu o estrelado os musicais já agonizavam. Em “Roleta Fatal” Mitzy está inteiramente perdida, tentando fazer graça com caretas intermináveis e caricatamente vestida como cowgirl. Por pouco não destrona a Joan Collins de “Estigma da Crueldade”. Uma pena. Michael Ansara deixando cocar e lança de lado é um mexicano chamado Apache Joe. E finalmente há a presença bizarra de Aaron Spelling como o magérrimo e careteiro capanga de Ansara. Os ensandecidos criadores de títulos brasileiros chamaram o filme de “Roleta Fatal”, faroeste indicado apenas para ser assistido sem nenhum outro compromisso que não seja passar o tempo.


18 de junho de 2012

AARON SPELLING – DE HORRÍVEL IMITADOR DE JACK ELAM A ‘REI DA TV’


O que há de mais interessante no faroeste “Roleta Fatal” (Three Young Texans) é a presença de um ator magro, feio e péssimo imitador de Jack Elam. O ator do olhar torto Jack Elam era, já no início da década de 50, um tipo marcante. O nome desse imitador era Aaron Spelling que, ainda bem, trocou a carreira de ator pela de produtor, tornando-se o mais prolífico, o mais famoso e o mais rico produtor da TV norte-americana.

Aaron e Carolyn Jones, marido e mulher em 1953.
RACISMO INFANTIL EM DALLAS - Aaron Spelling nasceu em Dallas (Texas) em 22 de abril de 1923, filho de imigrantes judeus vindos da Rússia e da Polônia. Quando criança o pequeno e magro Aaron apanhava todos os dias de seus colegas nas idas e vindas à escola só porque seus pais falavam aquele estranho idioma, o idishe. Psicosomaticamente Aaron, aos oito anos de idade, não conseguia se levantar da cama para ir à escola, passando um ano adoentado, até que se recuperou e enfrentou o bullying dos meninos texanos. Em 1942 Aaron se alistou nas Forças Armadas norte-americanas e quando voltou para casa ao fim da II Guerra Mundial trazia as medalhas Estrela de Bronze e a cobiçada medalha dos grandes heróis, a Purple Heart. Certamente os meninos que espancavam o judeuzinho Aaron não mostraram a mesma bravura. Aaron cursou então a Universidade Metodista do Sul, em Dallas, onde estudou Arte Dramática e criação de peças teatrais. Aos 20 anos Aaron se casou com uma jovem e promissora atriz chamada Carolyn Jones que já atuara em dois filmes de prestígio: “O Museu de Cera”, com Vincent Price (primeiro filme no processo chamado Terceira Dimensão) e em “Os Corruptos”, de Fritz Lang, com Glenn Ford e Lee Marvin. Enquanto Carolyn fazia bons filmes seu marido Aaron imitava pessimamente Jack Elam em “Roleta Fatal”, faroeste muito pobre produzido por um certo Leonard Goldberg.

O jovem produtor Aaron Spelling e
Don Durant, que interpretou Johnny Ringo.
JOHNNY RINGO, A PRIMEIRA SÉRIE - A carreira de Carolyn Jones não parava de melhorar e ela contracenava nos filmes com astros como Frank Sinatra, Elvis Presley, Kirk Douglas e Alan Ladd. Enquanto isso o marido Aaron era relegado a humilhantes pontas sem direito sequer a ver seu nome nos créditos iniciais. Foi aí que despertou em Aaron aquele faro próprio muito dos judeus para ganhar dinheiro. Aaron percebeu que os atores bem sucedidos ganhavam bem, mas os produtores ganhavam muito mais. Aaron abandonou a fracassada carreira de ator e passou a escrever roteiros para a televisão para a produtora Four Star em séries como “Zane Grey” e “Caravana”. Não demorou nada e Aaron já havia se tornado produtor de alguns episódios dessas séries. Mais um pouco e Aaron Spelling criou uma série própria chamada “Johnny Ringo”, também para a Four Star. Em 1959 a concorrência com outras séries westerns na TV era acirrada e essa primeira tentativa de Spelling resultou em apenas uma temporada com 38 episódios de meia hora em preto e branco. ‘Johnny Ringo’ era interpretado pelo ator Don Durant.

Alan Ladd com o rosto bastante inchado com
Jeanne Crain e em luta com Gilbert Roland em
"Gigantes en Luta".
PARCERIA COM ALAN LADD - Paralelamente a esse trabalho Aaron Spelling decidiu produzir para o cinema, associando-se a Alan Ladd, com quem produziu o western “Gigantes em Luta” (Guns of the Timberland), estrelado por Ladd. A carreira de Alan Ladd já estava em decadência e “Gigantes em Luta” não obteve o sucesso esperado, o que fez com que Aaron Spelling se voltasse decididamente para a televisão. Carolyn Jones e Aaron Spelling se separaram em 1963, exatamente o ano em que a estrela de Spelling começou a brilhar com a série policial “A Lei de Burke”, estrelada por Gene Barry, que vinha do sucesso que havia sido “Bat Masterson”. O novo casamento de Spelling (com Candy Spelling) ocorreu em 1968, ano em que ele formou uma produtora com o ator-produtor Danny Thomas. A Spelling-Thomas produziu a série “Mod Squad”, com sucesso ainda maior que “A Lei de Burke”. Em 1972 Spelling desfez a sociedade com Danny Thomas e se associou ao antigo amigo Leonard Goldberg que era o chefe de produção da ABC. Dessa parceria nasceram séries de enorme êxito como “Swat” e “Starsky e Hutch”. Aaron Spelling percebeu que não precisava de ninguém junto a ele para dividir os altos lucros conseguidos com as séries que criava e a partir de 1976 fundou a Aaron Spelling Productions Inc., que chegou a ser responsável por um terço das séries produzidas pela TV norte-americana, séries sempre distribuídas pela ABC. A rede ABC (American Broadcasting Corporation), que há anos assistia do seu eterno 3.º lugar a briga pela audiência da CBS e com a NBC, passou para o 1.º lugar e todo mundo chamava a ABC de Aaron’s Broadcastig Corporation.

Walter Brennan e Fred Astaire, dois dos patrulheiros
aposentados e Clint Walker. Produções de Spelling.
SUCESSOS SEM FIM - Spelling produziu 140 filmes para a TV, entre eles os westerns “Os Pistoleiros Aposentados” (The Over-the-Hill Gang) e “Os Patrulheiros Aposentados Atacam Outra Vez”, ambos com Walter Brennan e um elenco de veteranos; “Yuma” e “The Bounty Man”, estrelados por Clint Walker; “As Filhas de Joshua Cabe”, com Buddy Ebsen; “The Trackers”, com Ernest Borgnine; “As Novas Filhas de Joshua Cabe”, com Jack Elam. Mas o que transformou Aaron Spelling numa espécie de Rei da Televisão não foram seus TV-movies e sim a mais de uma centena de séries e mini-séries que seu gênio criativo não parava de inventar. Entre essas produções merecem ser lembradas “A Ilha da Fantasia”, “Dinastia”, “Hotel”, “Casal 20”, “As Panteras”, “Melrose Park” e “Barrados no Baile”. 

Dois aspectos da fabulosa mansão construída
por Aaron Spelling e Holmby Hills, Los Angeles.
“OLHE PARA MIM, SOU RICO!” - Cada sucesso representava mais e mais dinheiro na conta de Aaron Spelling que chegara em Hollywood cheio de sonhos mas sem dinheiro nos bolsos. Spelling era visto como uma soma de Louis B. Mayer, Jack Warner, Darryl Zanuck e Harry Cohn, os chefões dos grandes estúdios da época de ouro do cinema. Poderoso igual a eles e mais rico que todos eles. Quando Spelling decidiu mostrar que era milionário comprou por dez milhões de dólares, nos anos 70, a mansão que pertencera a Bing Crosby, demolindo-a. No lugar Spelling fez uma elevação para construir uma mansão em estilo castelo francês, que lhe custou mais doze milhões de dólares. Considerada a maior residência dos Estados Unidos, a mansão possuía 123 quartos todos luxuosamente decorados A enorme área de 26 mil metros quadrados e fica em Holmby Hills no mais luxuoso bairro de Los Angeles. Essa mansão com 20 metros de altura pode ser enxergada de qualquer parte da cidade, sendo chamada pelos vizinhos de “Olhe para mim, eu sou rico!” A revista Forbes estimou a fortuna de Spelling, em 1980, em 300 milhões de dólares, hoje algo próximo de um bilhão de dólares, o que fazia de Spelling um bilionário do ramo de entretenimento. Quando Spelling faleceu, em 2006, Candy, sua viúva vendeu a mansão para Bernie Ecclestone, o dono da Fórmula Um, por 150 milhões de dólares.

O POBRE IMITADOR DE JACK ELAM - Aaron Spelling faleceu aos 83 anos de idade, em 23 de junho de 2006, vítima de complicações cardíacas. No fim de sua vida Aaron teve câncer na boca em razão do antigo hábito de fumar cachimbo. À parte a ostentação de sua fortuna, Aaron Spelling era um homem generoso e suas atividades humanitárias lhe renderam incontáveis homenagens. E olhado por qualquer ângulo a televisão lhe deve muito pelos milhares de empregos que propiciou a técnicos, escritores e atores ao longo dos quase 50 anos de sua extraordinária vida de produtor. Pensando bem, nada mal para aquele péssimo imitador de Jack Elam que com alguma boa vontade pode ser visto em “Roleta Fatal”.

Spelling pobre em "Roleta Fatal" e milionário produtor de TV.