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2 de janeiro de 2013

ARTHUR HUNNICUTT, O CARACTERÍSTICO CAIPIRA DOS FAROESTES



Arthur Hunnicutt e Charles Grapewin.
Quem assistiu ao filme “Caminho Áspero” (Tobacco Road), de John Ford, certamente não se esqueceu do personagem ‘Jester Lester’, interpretado por Charles Grapewin. O simpático velhinho arrancou muitas lágrimas dos espectadores, isto quando Grapewin estava com 72 anos de idade. A peça “Tobacco Road” rodou os Estados Unidos, fazendo enorme sucesso em toda cidade em que era montada. Em 1942 um desconhecido ator chamado Arthur Hunnicutt subiu aos palcos uma centena de vezes interpretando ‘Jester Lester’. A diferença entre Hunnicutt e Grapewin era que Hunnicutt tinha apenas 32 anos de idade, compondo perfeitamente o envelhecido personagem. Nascia com aquela interpretação de Arthur Hunnicutt um dos mais característicos atores norte-americanos e que melhor que ninguém era um perfeito ‘old timer’.

Arthur sem barba e mais jovem.
O marcante sotaque caipira - É muito fácil reconhecer alguém nascido no Estado do Arkansas devido ao inconfundível sotaque acaipirado, alguma coisa parecida com a forma de falar de quem nasce no interior de São Paulo. Arthur Hunnicutt nasceu justamente no Arkansas e possuía aquele sotaque carregado que emprestava a seus personagens. O sotaque típico somava-se à sua figura alta (1,83m) e magra e o sorriso simpático quase escondido pela costumeira barba que acrescentava muitos anos à sua verdadeira idade. Trajes de homem simples completavam a imagem do velho habitante das cidades Velho Oeste, o ‘old timer’, um perfeito ‘hillbilly’, correspondente do nosso caipira. Arthur Lee Hunnicutt nasceu no dia 17 de fevereiro de 1910, na cidade de Gravelly, no Arkansas, e em plena depressão abandonou os estudos pois teve que trabalhar para sobreviver. Arthur acabou em uma companhia de teatro no Massachusetts e pouco depois estava em Nova York. Arthur atuou em inúmeras peças na Broadway, sempre requisitado para tipos parecidos com o ‘Jester Lester’ de “Tobacco Road”.

Sidekick de Durango Kid - O cinema entrou na vida de Arthur Hunnicutt em 1942 quando participou de um filme ‘B’ intitulado “Wildcat”, estrelado por Richard Arlen. Como Durango Kid estava sem sidekick, a Columbia contratou Hunnicutt para acompanhar as aventuras do mocinho interpretado por Charles Starrett. Todo sidekick tinha um apelido e o de Arthur Hunnicutt passou a ser ‘Arkansas’, divertindo a meninada das matinês em sete filmes da série Durango Kid. Paralelamente a essa série Hunnicutt continuou fazendo filmes sem maior expressão e insatisfeito retornou aos palcos da Broadway. Somente em 1949 Arthur Hunnicutt voltou a fazer filmes, obtendo um pequeno papel em “Escravos da Ambição” (Lust for Gold), western com Glenn Ford e Ida Lupino, filme quecomo o próprio nome indica, tentou reeditar o sucesso de “O Tesouro de Sierra Madre”. Depois de alguns papéis igualmente pequenos em diversas produções, Hunnicutt passou a ser bastante requisitado no gênero que o tornaria conhecido, o faroeste.

Tempos de faroestes - 1950 foi um grande ano para Arthur Hunnicutt que participou de “Flechas de Fogo” (Broken Arrow), com James Stewart; “Almas em Fúria” (The Furies), com Barbara Stanwyck; “Entre Dois Juramentos” (Two Flags West), com Jeff Chandler. Muito interessante nesse ano de 1950 foi a participação de Hunnicutt em “O que Pode um Beijo”, estrelado por Rory Calhoun e com Walter Brennan também no elenco. Brennan viria a ser muito importante na carreira de Arthur Hunnicutt. Em 1951 a boa fase de Hunnicutt continuou, embora os papéis fossem muito parecidos, em quase todos variações do ‘old timer’ ou do homem da fronteira. Mas os papéis eram cada vez maiores e Hunnicutt ia ficando mais e mais conhecido como ator característico. Esse foi o ano de “Talhado em Granito” (Sugarfoot), com Randolph Scott; “A Glória de um Covarde” (The Red Badge of Courage), com Audie Murphy; “Passage West”, com John Payne; “Tambores Distantes” (Distant Drums), com Gary Cooper.

Acima Arthur Hunnicutt com James Stewart e com Gary Cooper;
abaixo em cena de "Entre Dois Juramentos" e "A Glória de um Covarde".


Sequências de "Rio da Aventura";
abaixo Hunnicutt com Kirk Douglas e Dewey Martin.


Indicação para o Oscar - 1952 foi ainda melhor para Hunnicutt que participou com destaque do cultuado “Paixão de Bravo” (The Lusty Men), com Robert Mitchum e Susan Hayward. Nesse mesmo ano Howard Hawks foi ao Wyoming para filmar “Rio da Aventura” (The Big Sky) e o diretor queria Walter Brennan para interpretar ‘Zeb Colloway’. Como Brennan não pode atender ao amigo Hawks, o papel ficou para Arthur Hunnicutt que teve atuação memorável, sendo uma das melhores coisas desse filme de Hawks, roubando cenas até de Kirk Douglas. Tão boa foi a interpretação de Hunnicutt que o ator recebeu uma indicação para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante de 1952, tendo como concorrentes as excepcionais companhias de Richard Burton, Victor McLaglen Jack Palance e Anthony Quinn. Quem acabou ficando com o prêmio foi Anthony Quinn por sua interpretação como Eufêmio Zapata em “Viva Zapata”. O prestígio de Arthur Hunnicutt como ator estava consolidado. Seguiram-se “Devil’s Canyon”, com Dale Robertson; “Bonita e Audaciosa”, com Robert Mitchum e Jean Simmons; e o musical “The French Line”, com Jane Russell.

A impossível missão de substituir Walter Brennan - Em 1955 Herbert J. Yates, o dono da Republic Pictures, decidiu se vingar de John Wayne, que abandonara o estúdio. A Republic produziu um western sobre a heróica resistência do Álamo, intitulado “A Última Barricada” (The Last Command). Arthur Hunnicutt ficou com o papel de ‘Davy Crockett’, que cinco anos depois seria vivido pelo próprio Duke em “O Álamo”. Outro grande faroeste que contou com a presença de Hunnicutt foi “Resgate de Bandoleiros” (The Tall T), com Randolph Scott. A TV também dava muitas oportunidades a Hunnicutt que participava como convidado de muitas séries de sucesso, o que o afastou um pouco do cinema. Em 1965 Arthur pode ser visto como ‘Butch Cassidy’ no enorme sucesso que foi “Dívida de Sangue” (Cat Ballou) e também em “Rebelião dos Apaches” (Apache Uprising) com Rory Calhoun. Em 1966 Howard Hawks voltou ao faroeste com “Eldorado”, uma refilmagem disfarçada de “Rio Bravo”, chamando Walter Brennan para repetir seu personagem ‘Stumpy’, desta vez com o nome ‘Bull’. Mas Brennan novamente não pode participar e lá estava seu eventual substituto Arthur Hunnicutt para acompanhar John Wayne, Bob Mitchum e James Caan. A atuação de Arthur agradou na missão impossível de substituir Walter Brennan.

Hunnicutt com Randy Scott em "Resgate de Bandoleiros"; com James Caan e
John Wayne em "Eldorado"; abaixo cena de "Eldorado".

A idade chega para o ‘old timer’ - “Califórnia, Terra do Ouro” é de 1967 e foi um faroeste pouco assistido porque ninguém se interessou em ver Roddy McDowall no Velho Oeste, mesmo com Karl Malden e Arthur Hunnicutt no elenco. Só em 1971 Arthur voltaria ao western em “O Parceiro do Diabo”, com Gregory Peck. “Marcados pela Vingança”, de 1972, tinha no elenco William Holden e Ernest Borgnine, além de Hunnicutt, mas esse faroeste não chamou muito a atenção. Em 1974 Arthur atuou em “Os Três Discípulos do Diabo” (Spike’s Gang), com Lee Marvin, outro faroeste que merecia melhor sorte nas bilheterias. Arthur Hunnicutt atuou em seguida num pequeno papel em “Harry, o Amigo de Tonto”, filme sobre a velhice, que por sinal estava chegando para o ator, então com 64 anos. Arthur reuniu-se em “Winterhawk” a diversos outros atores veteranos como Leif Erikson, Woody Strode, Denver Pyle, L.Q. Jones, Elisha Cook Jr., todos eles com carreiras tão brilhantes no cinema como a do próprio Hunnicutt.



Cala-se o sotaque do Arkansas - A despedida do cinema para Arthur se deu criando o personagem ‘Uncle Jesse’ no filme “Moonrunners”, praticamente um piloto para a série de TV “The Dukes of Hazzard”, desenvolvida em 1979. ‘Uncle Jesse’ era o fabricante clandestino de moonshine, uísque de fabricação caseira proibido pelas leis das zonas rurais norte-americanas. Na TV ‘Uncle Jesse’ foi vivido magnificamente por Denver Pyle e mais tarde por Willie Nelson em novo filme sobre a saga da amalucada família Dukes da cidade de Hazzard. Seria impossível Arthur Hunnicutt ter ficado com o personagem ‘Uncle Jesse’ que criou pois em 1979, ano de início da série, Hunnicutt contraiu câncer na língua, doença que o levou à morte aos 69 anos de idade. O falecimento de Arthur ocorreu no dia 26 de setembro de 1979, em Los Angeles. Entre as poucas informações sobre a vida pessoal de Arthur Hunnicutt, sabe-se que ele foi casado por muitos anos com Pauline Lile, que o acompanhou até o fim de sua vida. Pauline providenciou para que o marido fosse enterrado no cemitério de Mansfield, no Estado de Arkansas. Nos últimos anos de sua vida Arthur Hunnicutt foi homenageado com o cargo de prefeito honorário da cidade de Northridge, na Califórnia. Para quem passou a vida interpretando ‘old timers’, Arthur Hunnicutt faleceu relativamente cedo, mas deixou para os fãs interpretações marcantes em mais de 50 filmes que fizeram dele um tipo inesquecível para os cinéfilos.

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