UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

26 de fevereiro de 2013

O RETORNO SANGRENTO (The Ride Back) – ANTHONY QUINN EM UM PEQUENO WESTERN


Anthony Quinn em "A Estrada da Vida"
(foto maior), "Lawrence da Arábia",
"Os Canhões de Navarone" e como boxeador
em "Réquiem para um Lutador".
Anthony Quinn foi um dos mais notáveis atores do cinema de todos os tempos. Sua filmografia é de fazer inveja a, por exemplo, Jack Nicholson e Daniel Day-Lewis, que juntos possuem seis estatuetas da Academia de Cinema e Artes de Hollywood, aquela apelidada de Oscar. Durante sua longa carreira de mais de seis décadas, Anthony Quinn atuou indistintamente em superproduções como “Lawrence da Arábia” e “Os Canhões de Navarone” e em filmes de pequeno orçamento como “A Estrada da Vida” e “Réquiem para um Lutador”. Em comum há o fato de suas interpretações se tornarem não raro inesquecíveis. Nos faroestes Anthony Quinn atuou igualmente em westerns classe ‘A’ como “Minha Vontade é Lei” e “Duelo de Titãs” e em faroestes que poucos assistiram como “Blefando com a Morte” e “O Retorno Sangrento”. Nem sempre o custo de produção determina a qualidade do filme pois “Consciências Mortas” teve padrão ‘B’ da 20th Century-Fox e foi um dos grandes filmes dos anos 40. Nesse clássico que William A. Wellman dirigiu, Anthony Quinn interpretou um mexicano condenado injustamente à forca. Em “O Retorno Sangrento” Quinn é um ‘gringo’ procurado pela Justiça acusado por crimes em legítima defesa.


William Conrad como Matt Dillon
quando "Gunsmoke" era campeão
de audiência no rádio.
Episódio da série “Gunsmoke” - “O Retorno Sangrento” (The Ride Back) é uma produção de William Conrad em parceria com o diretor Robert Aldrich. Conrad ficou conhecido no Brasil como o detetive durão da série “Cannon” (1971-1976). Antes, nos anos 50, Conrad com sua fantástica voz interpretou o 'Marshal Matt Dillon' na série “Gunsmoke” quando radiofonizada. E a história de “O Retorno Sangrento” havia sido um dos episódios de “Gunsmoke” com William Conrad que era amigo de Aldrich, daí a associação para produzir um pequeno western filmado em três semanas em Thousand Oaks, na Califórnia. A história de autoria de Anthony Ellis seria um excelente material para Budd Boetticher que em 1957 já estava envolvido com a série de westerns feitos em parceria com Randolph Scott. Na impossibilidade de ter Boetticher foi contratado para dirigir o inexperiente Allen H. Miner. “O Retorno Sangrento” lembra bastante um episódio de uma das muitas séries de TV com uma hora de duração pois possui poucos atores (apenas seis atores tem falas no filme) e foi filmado em preto e branco. A diferença, sem dúvida seria feita por Anthony Quinn que acabara de receber seu segundo Oscar por “Sede de Viver”. Além de Quinn foi contratada Lita Milan, bonita atriz que nunca conseguiu chegar ao estrelado e que abandonou a carreira após “O Retorno Sangrento” para se tornar nora do ditador da República Dominicana Rafael Trujillo.

Eddie Albert no programa de TV de Johnny
Cash; abaixo também na TV em "The Long
Trail"; cena de "Galante e Sanguinário" com
Van Heflin e Glenn Ford.
Homens da lei acompanhando bandidos - “O Retorno Sangrento” se inicia com uma canção-tema que narra os acontecimentos a serem desenrolados no filme, o que se tornou comum nos faroestes nos anos 50. A curiosidade é que quem canta neste faroeste é o ator Eddie Albert, de tantos filmes, entre eles “A Princesa e o Plebeu” e “Morte sem Glória” e da série de TV “O Fazendeiro do Asfalto”. Se dependesse da introdução cantada por Eddie Albert o filme estaria seriamente comprometido pois a canção-tema é fraca e a voz de Eddie Albert para cantar é desagradável. Nada que lembre “3:10 to Yuma” que Frankie Laine canta na introdução e no final de “Galante e Sanguinário”, cuja história lembra a de  “O Retorno Sangrento”, que foi filmado meses antes que o clássico de Delmer Daves. Nesse filme Van Heflin assume a obrigação de conduzir o bandido Glenn Ford, de trem, até Yuma. E o espectador vai lembrar também de “Duelo de Titãs”, outro grande western em que um prisioneiro (Earl Holliman) deve ser transportado por um homem da lei (Kirk Douglas). E Anthony Quinn tem um de seus grandes desempenhos em “Duelo de Titãs” como o pai do prisioneiro. O mesmo Anthony Quinn já havia atuado num teledrama da série Schlitz Playhouse of Stars, que foi ao ar em 19 de novembro de 1954, intitulado “The Long Trail”. Nesse programa de televisão Anthony Quinn é o Texas Ranger Clay Waldon, incumbido de levar um bandido a uma cidade texana.

Lita Milan e o padre do povoado (Victor Millan) ao lado de
Anthony Quinn e contra o xerife William Conrad.
Acidentado retorno - Bob Kallen (Anthony Quinn) está fazendo a barba quando dois homens tentam matá-lo. Kallen é mais rápido e mata os oponentes fugindo da pequena cidade ainda com espuma no rosto e a toalha no pescoço. Kallen atravessa a fronteira com o México e foge para o povoado onde mora. O xerife Chris Hamish (William Conrad) procura por Kallen no México e o encontra sem dificuldade. As dificuldades surgirão no trajeto de retorno em que além de Elena (Lita Milan), mulher que convive com Kallen, apaches cruéis tentarão matá-los. Há ainda uma menina sobrevivente de uma família chacinada por esses mesmos apaches. Mesmo acorrentado Kallen tenta em diversas oportunidades se livrar de Hamish que afinal é alvejado por um tiro disparado pelos apaches. Kallen ajuda Hamish e este passando a acreditar na inocência de Kallen promete a ele um julgamento justo quando terminar a viagem de volta.

Hamish (Conrad) e Kellan (Quinn): em comum só as mãos armadas.


Tony Quinn segurando um porquinho
ao lado de Lita Milan; abaixo Quinn
e Conrad, personalidades diferentes.
Personalidades opostas - Os faroestes na década de 50 ganharam aprofundamento psicológico de seus personagens em filmes com mais diálogos e menos ação. Este é o caso de “O Retorno Sangrento” em que, até por questão de orçamento, a ação limita-se ao confronto final entre Kallen e os apaches, enquanto Hamish jaz inerte baleado que foi. O confronto verdadeiro neste western é o confronto psicológico entre o prisioneiro e seu captor, iniciado na primeira aparição de Kallen, feliz carregando um porquinho ao lado de sua mulher. A cena choca Hamish que é um homem amargurado e privado de afeto. Ao ser conduzido Kallen recebe demonstração de amizade de três humildes habitantes do povoado. O padre do lugar também gosta de Kallen. A mulher de Kallen é apaixonada por ele e tudo faz para tentar libertá-lo de Hamish. A menina sobrevivente da chacina só se relaciona com o prisioneiro algemado. E Kallen é arrogante pois sabe que poderá escapar quando quiser no caminho de volta com o xerife. Kallen não perde a oportunidade para lembrar que Hamish mal sabe empunhar sua arma e dispará-la. O xerife é inseguro, ressentido e triste, mas determinado a cumprir sua missão, a única coisa certa que ele teria feito em sua inútil vida. Pouco a pouco Kallen vai sentindo um misto de pena e respeito por Kallen e este por sua vez passa a acreditar na inocência do homem que perseguiu tão tenazmente. Ao final, quando Hamish está agonizando, Kallen decide abandoná-lo com a menina e voltar para sua casa. No meio do caminho sua consciência faz com que ele mude de atitude e retorne com Hamish ainda vivo para a cidade.

William Conrad, a menina Elle Hope Monroe e Tony Quinn.
Faltou diretor - Mesmo com dois excelentes atores como William Conrad e Anthony Quinn, “O Retorno Sangrento” não consegue atingir a dimensão dramática dos faroestes de Anthony Mann ou Delmer Daves, por exemplo. Falta ao filme a mão segura de um diretor mais competente, isto somado à indisfarçada pobreza da produção. Sabemos que muitos diretores, com poucos recursos conseguem fazer pequenos grandes filmes. Não foi o caso de Allen H. Miner, mesmo porque Miner sequer completou as filmagens, tendo sido substituído por Oscar Rudolph na metade do filme. Se Miner não era o diretor ideal, Rudolph é hoje lembrado como o diretor de filmes como “Dançando o Twist” e “Don’t Knock the Twist”, veículos para Chubby Checker. E o resultado da falta de um bom diretor é que “O Retorno Sangrento” é um faroeste pequeno em tudo, menos nas interpretações dos dois atores principais.
Anthony Quinn (usando poncho a la Clint Eastwood em 1957) e William Conrad;
abaixo Lita Milan lutando contra o fortíssimo William Conrad.

Nenhum comentário:

Postar um comentário