UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

27 de outubro de 2014

PISTOLEIROS DO ENTARDECER (RIDE THE HIGH COUNTRY) - SAM PECKINPAH E O CREPÚSCULO DO VELHO OESTE


Alguns historiadores do gênero western como Buck Rainey consideram a década de 40 ‘Os Anos de Ouro’ dos faroestes. Tal afirmação não se sustenta diante do sem número de excelentes filmes realizados nos anos 50, período em que as figuras lendárias do Velho Oeste eram ainda mostradas de forma romanceada pelo cinema. O revisionismo foi a tônica da década seguinte com linhas gerais traçadas por Sam Peckinpah, que iria se transformar no mais importante diretor de westerns daquele período. Entre 1961 e 1973 Sam Peckinpah fez sete westerns e alguns temas eram constantes em seus filmes: lealdade, traição e o melancólico fim dos tempos daqueles homens rudes com a chegada da civilização. Especialmente este último tema fascinava o diretor e, apesar de recorrente, nunca foi tão magnificamente tratado como em “Pistoleiros do Entardecer” (Ride the High Country). Tanto que alguns dos últimos e melhores westerns que o cinema apresentou, como “Os Imperdoáveis” (Unforgiven) e “Pacto de Justiça” (Open Range), devem muito ao filme de Peckinpah que lhes serviu de inegável inspiração e influência.


Joel McCrea e Randolph Scott
Traição e resignação - Partindo de um roteiro escrito por N.B. Stone Jr., mesmo sem crédito “Pistoleiros do Entardecer” foi praticamente reescrito pelo próprio Peckinpah para contar ao seu estilo a história do reencontro de dois envelhecidos pistoleiros. Steve Judd (Joel McCrea) é um ex-homem da lei que, aposentado, é contratado para transportar razoável quantidade de ouro desde um campo de mineração chamado Coarse Gold para o banco da pequena cidade próxima. Para esse trabalho Judd convoca Gil Westrun (Randolph Scott) amigo que como ele, quando mais moço, também percorreu o Velho Oeste mantendo a lei e a ordem. Westrun apresenta ao antigo amigo o jovem que o acompanha chamado Heck Longtree (Ron Starr) para ajudar na perigosa missão. A real intenção de Westrun e Longtree é se apoderar do ouro, mesmo sabendo do compromisso assumido por Judd com o banco. A caminho de Coarse Gold, os três passam a noite na fazenda de Joshua Knudsen (R.G. Armstrong), viúvo e pai da jovem Elsa (Mariette Hartley). Elsa foge do pai tirânico e se junta aos três homens para chegar a Coarse Gold onde vai se encontrar com Billy Hammond (James Drury) com quem tenciona casar. Após o casamento Elsa percebe ser impossível conviver com Billy e com os costumes selvagens da família composta por mais quatro irmãos. Judd, Westrun e Longtree sequestram Elsa das mãos dos Hammonds e iniciam a viagem de retorno. No caminho Judd descobre os planos de Westrum e Longtree ao mesmo tempo em que são atacados pelos Hammonds. O encontro ocorre na propriedade de Joshua Knudsen que havia sido morto pelos Hammonds. No confronto Steve Judd é ferido mortalmente, os irmãos são exterminados e Westrun e Longtree decidem cumprir a missão contratada por Judd e levar o ouro ao banco.

O pai tirano (R.G. Armstrong) e a filha reprimida (Mariette Hartley).

Randolph Scott como 'The Frontier
Lawman'; a manga puída de Judd.
Integridade versus ceticismo - O que faz de “Pistoleiros do Entardecer” um filme perfeito não são apenas as muitas e esplendidamente concebidas sequências de ação. Esses momentos são desfechos naturais dos conflitos que vão se encadeando na brilhante narrativa de Peckinpah que cria personagens incrivelmente humanos. Na composição de cada um dos personagens é que o filme de 94 minutos ganha dimensão rara em faroestes. Steve Judd é um homem íntegro e sofrido que após anos de trabalho mal recompensado praticamente nada conseguiu para seu final de vida. Os punhos e o colarinho de sua camisa estão puídos e os únicos bens que Judd possui são o cavalo, a sela com arreios de prata e um relógio de dois dólares, como escarnece o amigo Westrum. Judd vê no sucesso daquela que poderá ser sua última missão mais uma retribuição moral que financeira. O cético Gil Westrun não se deu melhor que o amigo após tantos anos alugando seu revólver para a Lei e ganha a vida fantasiado como ‘O Homem da Lei da Fronteira’, misto de William F. Cody e Wild Bill Hickok. A cabeleira, bigode e cavanhaque postiços lhe dão a imagem com que tenta impressionar os frequentadores da feira em que se exibe. Ao contrário de Judd, Westrum vê no ouro a ser transportado apenas um modo de ganhar dinheiro, mesmo que conseguido desonestamente. O cinismo e o oportunismo de Westrum contrasta com a dignidade de Judd que não perdoa o amigo mais ainda no outono de suas vidas.

Joel McCrea (com óculos para leitura) e Randolph Scott com a bota
furada do ex-marshall interpretado por McCrea.

Mariette Hartley com Ron Starr
e com James Drury.
A díficil libertação feminina - Elsa Knudsen é um admirável retrato de mulher do Velho Oeste, maltratada pelo pai intolerante e ansiosa por liberar sua sexualidade reprimida. Mesmo vendo no casamento com um semi-desconhecido um horizonte novo para sua vida, Elsa cede ao assédio do galante Heck Longtree, relação frustrada pelo atento Judd. Pior destino é reservado à moça com o iminente abuso sexual que os quatro cunhados Hammonds esperam praticar, o que não acontece porque outra vez Judd e ainda Westrum se unem para salvá-la da curra. Joshua Knudsen, vestindo-se como pastor, citando a Bíblia e vendo o pecado em cada ser humano é um personagem ao qual Peckinpah recorreria em outros filmes. O terrível grupo Hammonds mescla o psicopata Henry (Warren Oates), o abobalhado Sylvus (L.Q. Jones), o infantil Jimmy (John Davis Chandler), o Elder (John Anderson), todos submetidos à maldade de Billy (James Drury).

Os irmãos Hammond: John Anderson, James Drury e Warren Oates;
Oates armado com faca; L.Q. Jones, John Anderson, James Drury e
Warren Oates; L.Q. Jones e John Anderson.

R.G. Armstrong rezando e assassinado.
Casamento num bordel - “Pistoleiros do Entardecer” é composto por um conjunto de sequências marcantes, a primeira delas a reunião no jantar à mesa de Joshua Knudsen que cita provérbios bíblicos rebatidos por Judd. Tem lugar um pequeno duelo entre Knudsen e Judd que demonstra também conhecer a Bíblia. O inesperado confronto é encerrado pelo irônico Gil Westrum que diz a Elsa: “Você cozinha muito bem. Apetite: Capítulo Um”. Adiante uma antológica sequência de casamento realizada no bordel “Kate’s Place” com as prostitutas compenetradas pela seriedade da cerimônia conduzida por um inebriado juiz de paz (Edgar Buchanan). E a felliniana Kate (Jenie Jackson), com seus mais de cem quilos cuida para que todos sejam felizes no lupanar que dirige. A voracidade carnal estampada nos olhares dos selvagens Hammonds prestes a seviciar a pobre Elsa completa a delirante sequência de casamento. Mesmo sem exercitar a violência como o faria em filmes posteriores, Sam Peckinpah cria momentos fortes, um deles Knudsen morto como se estivesse orando no túmulo da esposa. Olhos esbugalhados e rosto perfurado por um tiro ao lado da lápide da esposa com a inscrição: “Vou julgá-las como mulheres adúlteras são julgadas. Eu darei a elas sangue em forma de fúria e ciúmes”. E a discreta mas convincente morte de Sylvus alvejado por Longtree não prenuncia a maestria do confronto final.

O bordel da Kate; Kate (Jenie Jackson) e as garotas generosas;
Edgar Buchanan; os noivos Mariette Hartley e James Drury;
Warren Oates querendo mais que beijar a noiva.

Scott e McCrea
O lirismo da morte - Após trair a confiança do amigo Judd e vê-lo em inferioridade para enfrentar os Hammonds, Westrun percebe que a lealdade vale mais que meros onze mil dólares em ouro e retorna para ajudar o amigo. Judd e Longtree já estão feridos e o reforço é providencial. Entrincheirados numa vala Judd e Westrun resolvem enfrentar os Hammonds cara a cara, como nos velhos tempos. O código de honra é entendido pelos Hammonds que aceitam o desafio e a aproximação lenta cria a tensão com a câmara de Peckinpah vendo a cena do alto. Nada de mocinhos mais rápidos e certeiros pois todos os homens são realisticamente alvejados, Judd duas vezes mais e mortalmente; Westrun ferido no ombro é o único sobrevivente. A edição é perfeita e resta Judd com um sopro de vida. O lirismo da derradeira sequência é tocante, com Judd pedindo para não ser visto morto pelos jovens Longtree e Elsa e com Westrun sentindo uma dor ainda maior pela perda do companheiro de cavalgadas. Poucas vezes um western mostrou sequência tão triste, tão profunda em seu significado e mais cinematográfica.

O duelo dinamicamente coreografado por Sam Peckinpah.

Randolph Scott
Randolph Scott irrepreensível - Muito contribuiram para a grandeza de “Pistoleiros do Entardecer” as belíssimas imagens do cinegrafista Lucien Ballard. O mesmo não pode ser dito da trilha sonora do veterano compositor George Bassman, por vezes altissonante, excessivamente intrusiva. Joel McCrea e Randolph Scott se completam excepcionalmente. McCrea sempre discreto fica com o personagem sério e dramático; Scott, para muitos um ator de uma só expressão, encerra sua carreira como Gil Westrun com irrepreensível interpretação. E bastante engraçado, fantasiado de Buffalo Bill ou quando repete a lição que Judd dá em Longtree, ajudando-o a se levantar para desferir outro formidável soco. Mariette Hartley foi uma felicíssima escolha de Peckinpah para a aturdida jovem perdida num mundo masculino de personalidades tão díspares. Ron Starr destoa da qualidade do elenco e entende-se porque não fez carreira no cinema apesar desta grande oportunidade. Em compensação quase todos os coadjuvantes são perfeitos, com destaque para Warren Oates entre os irmãos Hammonds. Edgar Buchanan como o bêbado Juiz de Paz domina a tela nos momentos em que aparece, excelente como de hábito.

Edgar Buchanan e Jenie Jackson; Mariette Hartley.

Ron Starr sendo socado duas vezes: por McCrea e por Scott.

Joel McCrea e Randolph Scott
Peckinpah no panteão dos maiores diretores - Para muitos “Pistoleiros do Entardecer” é o melhor western de Sam Peckinpah mesmo realizado quando o diretor ainda não exercitava sua criatividade estilizando as sequências brutais. Peckinpah passou a ser chamado de ‘O Poeta da Violência’ enquanto outros preferiam dizer que Bloody Sam era ‘O John Ford da Era Vietnã’. Com seus filmes seguintes Peckinpah inscreveria seu nome no hall dos maiores diretores norte-americanos do gênero ao lado de John Ford, Howard Hawks e Anthony Mann. Sete anos depois deste seu segundo western, Peckinpah dirigiria aquele que é um dos maiores filmes da história da 7.ª Arte, “Meu ódio Será Sua Herança”, cujas sementes estão em “Pistoleiros do Entardecer”.

Joel McCrea e Randolph Scott; L.Q. Jones e Warren Oates.

25 de outubro de 2014

SAM PECKINPAH SE APRESENTA A HOLLYWOOD COM SUA PRIMEIRA OBRA-PRIMA


Acima Brian Keith em um episódio da
série "The Westerner", criada por
Sam Peckinpah (abaixo).
Doze mil dólares foi o salário oferecido pelo produtor Richard D. Lyons para Sam Peckinpah dirigir “Guns in the Afternoon”, história que Lyons detinha os direitos de filmagem. A adaptação para o cinema já havia sido feita pelo roteirista N.B. Stone Jr. e quando Peckinpah recebeu o roteiro ficou tão impressionado após a leitura que sequer discutiu o pequeno salário oferecido por Lyons. Como comparação, John Ford, nesse mesmo ano de 1961 recebeu 250 mil dólares para dirigir “O Homem que Matou o Facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance), além de participação nos lucros deste filme. John Ford era há tempos o Mestre dos Faroestes e Sam Peckinpah era apenas um diretor praticamente desconhecido. Sabia-se dele que escrevera algumas histórias para séries de televisão e até criara uma série própria intitulada “The Westerner”. Essa série estrelada por Brian Keith teve pouca audiência e acabou sendo cancelada antes de completar a primeira temporada. Porém “The Westerner” impressionou a todos que assistiram alguns de seus poucos episódios e, mais que todos, impressionou Brian Keith que se tornou admirador de Sam Peckinpah. Em 1961 Brian Keith era um astro em ascensão e obteve bastante sucesso contracenando com Maureen O’Hara em “O Grande Amor de Nossas Vidas” (The Parent Trap), comédia em que faziam os pais separados das gêmeas interpretadas por Hayley Mills. Curiosamente, naquela comédia da Disney, começou indiretamente a carreira de diretor de cinema de Sam Peckinpah.

Brian Keith e Maureen O'Hara em
"Parceiros da Noite".
Problemas já na estréia - A Warner Bros. quis aproveitar o sucesso da dupla Brian Keith-Maureen O’Hara e produziu “Parceiros da Morte” (The Deadly Companions). O produtor-executivo desse western era o irlandês Charles B. Fitzsimons, irmão de Maureen O’Hara e por imposição de Brian Keith aceitou que o filme fosse dirigido pelo novato Sam Peckinpah. O batismo cinematográfico de Peckinpah foi terrível pois Fitzsimons atormentou o diretor o tempo todo, impedindo-o de dirigir a famosa irmã nas cenas em que ela participava, além de dar palpites durante toda a filmagem. Para concluir, Fitzsimons não deixou Peckinpah orientar a montagem de “Parceiros da Noite” que foi editado à revelia do diretor e resultou num filme bastante ruim. Mas quem é que consegue entender os críticos? Alguns deles elogiaram a direção de Sam Peckinpah vendo qualidades naquele diretor de 35 anos que fazia sua estreia no cinema...

Os jovens Randolph Scott e Joel McCrea
em início de suas carreiras.
O encontro de dois veteranos cowboys - Richard D. Lyons inicialmente queria reunir Gary Cooper e John Wayne para os papéis dos envelhecidos pistoleiros de “Guns in the Afternoon”. Mas Cooper estava bastante doente e morreria de câncer naquele ano de 1961. John Wayne, por sua vez, andava aceitando toda e qualquer proposta de trabalho para tentar amortizar as dívidas contraídas com o monumental prejuízo que tivera com “O Álamo”. O problema é que John Wayne cobrava ‘apenas’ 500 mil dólares por filme, além de participação nos lucros. Lyons havia conseguido 750 mil dólares com a MGM para produzir “Guns in the Afternoon” e não poderia pagar o que John Wayne pedira. O jeito foi se contentar com Randolph Scott e Joel McCrea, muito mais baratos, até porque ambos estavam semi-aposentados do cinema e sem nenhuma oferta de trabalho naqueles dias. O veterano Randolph Scott, no cinema desde 1928, nunca havia trabalhado para a Metro Goldwyn Mayer. Joel McCrea, sete anos mais novo que Scott, tinha se iniciado no cinema em 1927. Os dois haviam atuado juntos em apenas um filme, no início de suas carreiras, em 1929. “Dinamite” foi o título desse drama dirigido por Cecil B. DeMille. Satisfeito por conseguir Scott e McCrea, Lyon ainda precisava de um diretor.

Boetticher não, Peckinpah sim - Randolph Scott indicou Budd Boetticher ao produtor Lyons. Scott e Boetticher haviam feito juntos uma memorável série de sete westerns, série muito elogiada especialmente pela crítica francesa. Boetticher, porém, estava às voltas com seu projeto sobre a vida do toureiro Carlos Arruza e declinou da oferta. Boetticher levaria dez anos para completar esse documentário, dirigindo apenas um único filme nesse período, o western “A Time for Dying”, com Audie Murphy. Esse acabaria sendo o último filme de Boetticher e também a derradeira participação de Audie Murphy no cinema. Ainda à procura de um diretor bom e barato, Lyons recebeu um recado de Sylvia Hersh, funcionária do departamento de roteiristas da MGM. Sylvia conhecia Sam Peckinpah e disse ao produtor Lyons que assistisse a alguns episódios da série “The Westerner” para conhecer o trabalho de Peckinpah como diretor. Lyons assistiu aos cinco episódios da série dirigidos por Sam e ficou impressionado com o que viu, fazendo então a oferta de 12 mil dólares a Peckinpah e enviando-lhe o roteiro para que ele o lesse.

Scott e McCrea divertindo-se num
duelo num intervalo das filmagens.
A caneta vermelha do diretor - Sam Peckinpah foi autorizado por Richard D. Lyons a fazer algumas alterações no roteiro escrito por N.B. Stone Jr., com a condição que as alterações não afetassem substancialmente a história. Peckinpah fez apenas uma única mudança maior no roteiro que foi inverter o pistoleiro que morre ao final. Ao invés de Gil Westrum, o velho de caráter condenável, quem morreria seria o outro velho pistoleiro, Steve Judd. Não houve, no entanto, uma única página do roteiro original que não tivesse sido riscada e modificada pela caneta vermelha de Peckinpah. As alterações foram aceitas por Richard D. Lyons e também por Randolph Scott e Joel McCrea que perceberam que o texto ficou muito mais rico e intenso que o de autoria de Stone Jr. O restante do elenco foi formado em parte por jovens atores da televisão que já haviam sido dirigidos por Sam Peckinpah em episódios de séries de televisão como Warren Oates, James Drury, John Anderson e R.G. Armstrong. Mariette Hartley, de 21 anos, foi submetida a um teste e imediatamente Peckinpah aprovou a moça de cabelos curtos. Mariette havia participado pouco antes de uma encenação teatral interpretando Joanna D’Arc e é grande sua semelhança com Ingrid Bergman.

Atores que já haviam sido dirigidos por Sam Peckinpah: R.G. Armstrong,
James Drury, John Anderson e Warren Oates.

Mariette Hartley

Sam Peckinpah em pé orientando a
posição da câmara.
Parceria com Lucien Ballard - O título do filme foi alterado para “Ride the High Country” e Peckinpah exultou quando soube que o cinegrafista seria Lucien Ballard, com quem havia trabalhado em alguns episódios da série “The Westerner”. Peckinpah e Ballard fariam, a partir de então, uma parceria que resultou em magníficos trabalhos e na obra-prima “Meu Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch). Parte das locações de “Ride the High Country” foram feitas no Parque Nacional Inyo, na Califórnia, até que nevascas impediram a continuação do trabalho naquele extasiante cenário. Peckinpah queria esperar que as tempestades de neve cessassem, mas a MGM ordenou que outros locais fossem encontrados e Bronson Canyon, Griffith Park e Mammoth Lake, todos na Califórnia foram utilizados como locações. As filmagens duraram 25 dias, cinco a mais que o previsto e consumiram 813 mil dólares, 63 mil além do orçamento inicialmente autorizado. Para maior economia dessa produção, a MGM utilizou as velas dos navios de “O Grande Motim” (Marlon Brando) para fazer as tendas do acampamento dos mineradores no filme de Peckinpah.

Complemento de programa duplo - “Ride the High Country”, que no Brasil recebeu o título de “Pistoleiros do Entardecer” teve uma projeção para o presidente da MGM que detestou o filme chamando-o de horrível. O estúdio decidiu distribuí-lo como complemento de programa duplo, lançando-o juntamente com “Os Bravos Tártaros” (I Tartari), produção europeia distribuída nos Estados Unidos pela MGM. No elenco desse épico ‘espadas-e-sandálias’ os destaques eram Victor Mature e Orson Welles. Alguns cinemas em Nova York exibiam em junho de 1962 um programa duplo tendo como filme principal “Os Bravos Tártaros”, complementado por um western intitulado “Ride the High Country”. O respeitado crítico do ‘The New York Times’ Bosley Crowther foi a uma dessas sessões e no dia 21 de junho escreveu em sua coluna que havia assistido a um filme abominável com Orson Welles mais parecendo uma casa ambulante e a um pequeno e excepcional western.

“Um dos melhores de todos os tempos” - Outras críticas foram igualmente enfáticas em ressaltar as qualidades do filme do quase desconhecido diretor Sam Peckinpah. Um mês antes do lançamento do filme de Peckinpah havia sido lançado “O Homem Que Matou o Facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance), western que demorou um pouco mais para ser saudado como a última obra-prima de John Ford no gênero. Ao filme de Ford juntou-se o de Sam Peckinpah e já se sabia que o jovem diretor passaria a ser citado igualmente como grande diretor, bastando para isso mais alguns westerns como “Ride the High Country”, o que não demorou a acontecer. Mas ninguém melhor que o renomado historiador cinematográfico William K. Everson para definir esse filme de Sam Peckinpah: Ride the High Country é não somente um dos melhores westerns dos anos 60, mas um dos melhores de todos os tempos”.


Acima à esquerda Randolph Scott, Mariette Hartley e Joel McCrea;
abaixo Scott e Mariette; na foto maior Joel McCrea e Randy Scott
com Tarita que participou de "O Grande Motim" com Marlon Brando.

21 de outubro de 2014

TOP-TEN WESTERNS DE BETO MONTGOMERY, WESTERNMANÍACO AUTÊNTICO


Alberto Nista, também chamado de Beto Montgomery, não é apenas um cinéfilo, mas um autêntico westernmaníaco. Prova disso é sua paixão por tudo que envolve o Velho Oeste norte-americano e que o levou a conhecer os solos sagrados pisados por seus ídolos. E apesar de relativamente jovem (Beto ainda não chegou aos 50 anos), praticamente não há western importante que esse cinéfilo não tenha assistido. A seguir o próprio Beto Montgomery fala um pouco de sua vida e ao final brinda os leitores de WESTERNCINEMANIA com seu Top-Ten Westerns.

Guy Williams, o Zorro;
Robert Conrad e Ross Martin
em "James West".
Howdy, amigos do Western! Comecei minha história como Cinemaníaco muito cedo, com oito anos, assistindo a filmes de faroestes e épicos com minha mãe e irmãs, em nossa casa em Santo André (município da Grande São Paulo). Lembro perfeitamente de esperar ansioso o fim da aula para chegar em casa perto da hora do almoço e acompanhar diariamente as aventuras do Zorro de Guy Williams e também de James West com seu parceiro Artemus. Fazia espadas de madeira e armas de brinquedo para assim imitar meus heróis das telas. Que alegria quando à tarde passava filmes do meu ídolo maior, Elvis, o Rei do Rock!! Lembro também que logo depois, aos 12 anos, comecei minha vida no campo em um sítio de meu pai em Suzano-SP, onde aprendi a montar e ingressei no mundo dos cowboys, participando de rodeios, provas de montaria e cavalgadas. Foi nessa época também que começou outras de minhas paixões: tocar violão e cantar. Cheguei a cantar profissionalmente durante algum tempo e cantava de tudo um pouco para agradar os gostos variados do público. E o repertório tinha que ir de MPB até o rock clássico, no entanto fui criado ouvindo música sertaneja de raiz, aquela que nunca sai do coração e que canto com especial prazer e emoção.

Burt Lancaster , o 'Dardo' de
"O Gavião e a Flecha".
Ainda quando criança sonhava em ser o arqueiro de “O Gavião e a Flecha”, o espadachim implacável de “Scaramouche” ou o pistoleiro frio e mortal de “Shane”... Como esquecer de Jack, o Matador de Gigantes salvando a princesa, de Tarzan enfrentando leões e crocodilos ou de Hércules levantando grandes pedras com sua força sobre-humana? Quantas lembranças, amigos!! Esse amor e completo fascínio que sentia pelo cinema foram crescendo cada vez mais conforme os anos passavam, quando então inaugurei minha primeira locadora de vídeo nos anos 90. Nessa época também comecei minha coleção de filmes antigos raros, que conta hoje com mais de seis mil títulos e continua crescendo...

Maureen O'Hara e Tyrone Power em
"O Cisne Negro", vendo-se Anthony
Quinn ao fundo;
os mosqueteiros Van Heflin,
Gene Kelly, Alan Hale e Gig Young.
Alguns desses filmes eu gosto mais que outros e foram muitas as vezes que os revi, entre eles “Os Três Mosqueteiros”, de 1948, com Gene Kelly e Van Heflin, cujas cenas de lutas de espada e perseguições a cavalo são inesquecíveis; “O Cisne Negro”, de 1942, com Tyrone Power e Maureen O’Hara, capa-e-espada em que Mr. Power caiu muito bem como o pirata conquistador; “Ulisses”, de 1954, com o monstro das telas Kirk Douglas e Anthony Quinn, filme que tem a cena final antológica quando Ulisses mata os pretendentes de Penélope; e “As Aventuras de Robin Hood”, de 1938, que vi ainda criança, quando tive meu primeiro contato com Errol Flynn, estupendo no papel, contracenando com Olivia De Havilland. Como todo cinéfilo eu também tenho meus atores e atrizes preferidos. São eles: Kirk Douglas pelo conjunto da obra; Alan Ladd, excelente nos primeiros anos de carreira e nem tanto no final; Burt Lancaster, que dispensa comentários, tomando conta da tela em todos os gêneros; Glenn Ford, outro monstro do cinema. Das atrizes gosto muito de Maureen O’Hara pela presença na tela; Rhonda Fleming que para mim é a Rainha dos Westerns; Yvonne De Carlo que além de talentosa é belíssima; e Ava Gardner pelo talento, charme e sedução.

Kirk Douglas, Alan Ladd, Glenn Ford e Errol Flynn.

Maureen O'Hara, Rhonda Fleming, Yvonne De Carlo e Ava Gardner

Beto Montgomery em foto no Sul dos
Estados Unidos entre dois 'Johnny Rebs'.
Um sonho que sempre me acompanhava desde pequeno: viajar para os Estados Unidos da América, palco dos grandes filmes que marcaram minha infância. E foi em 1999 que esse sonho se concretizou pela primeira vez numa viagem à Flórida com minha querida mãe. Nos anos que vieram pude conhecer a Califórnia e, logicamente Hollywood, nosso Éden, meu e de todos Cinemaníacos. Visitei com muita felicidade o Gene Autry Museum of American West, em Los Angeles, imperdível para os fãs do faroeste. E sempre imaginando qual seria a próxima viagem... Outros sonhos realizados: Graceland, a casa do eterno ídolo Elvis, Nashville, a cidade berço da Country Music e, na viagem mais recente, algumas semanas atrás, a visita a Gettysburg, palco de sangrentas e históricas batalhas da Guerra Civil Americana. E em todas as viagens sempre trazendo lembranças e souvenirs de filmes, assim como facas e espadas, outra de minhas paixões de colecionador. Espero ainda ter saúde e disposição para muitas outras viagens em busca de conhecimento e satisfação pessoal. Obrigado, amigos, por lerem esta simples sinopse da vida de um apaixonado por filmes, como vocês. Grande abraço e que Deus os abençoe.


TOP-TEN WESTERNS DE BETO MONTGOMERY

Achei muito difícil o desafio do amigo Darci, mesmo para nós amantes das pradarias, tiros e cidades empoeiradas do velho oeste: listar apenas 10 filmes que marcaram nossas vidas, nos emocionaram e, acima de tudo, nos fizeram viajar no tempo e no espaço, para outras épocas e lugares... Mas, vamos à luta, quero dizer, ao duelo!

1.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 – George Stevens
Nessa escolha, acho que estou com a maioria: simplesmente um dos maiores westerns da história do cinema. Um clássico eterno, abrilhantado pelo excelente elenco encabeçado por Alan Ladd. Impossível não se emocionar.



* * * * *

2.º) Tombstone – A Justiça Está Chegando (Tombstone), 1993
A conhecida história de Wyatt Earp e seus irmãos, além do emblemático Doc Holliday, lutando contra o bando de Ike Clanton no OK Corral, em Tombstone, Arizona. Elenco muito bem escolhido e personagens marcantes, como o ótimo Doc Holliday de Val Kilmer. Vi e revi várias vezes.


* * * * *

3.º) Rio Vermelho (Red River), 1948 – Howard Hawks
Um tirânico e com visual envelhecido John Wayne, numa história com alguns clichês westernianos de primeira. Adoro a fotografia (mesmo tendo cópia colorida, ainda prefiro a original P&B) e o ritmo. Montgomery Clift está excelente em sua estreia.



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4.º) O Último Pôr-do-Sol (The Last Sunset), 1961 – Robert Aldrich
Kirk Douglas em um dos melhores papéis de sua carreira, em minha opinião. Sua presença na tela com Rock Hudson e Dorothy Malone tornaram essa obra fascinante para mim, além do final surpreendente.



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5.º) Uma Cidade que Surge (Doge City), 1939 – Michael Curtiz
Estréia de Mr. Flynn no gênero. O nascimento e crescimento da cidade de Dodge me agradou muito, nos fazendo entrar na história e torcendo para o mocinho se tornar Xerife e fazer a justiça com as próprias mãos. Ótima produção para a época.



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6.º) Balas que não Erram (No Name on the Bullet), 1959 – Jack Arnold
Audie Murphy... Me lembro de minha querida mãe me chamando (eu com 9, 10 anos de idade) e me dizendo: “Oba, hoje vai passar um filme com aquele mocinho bonitinho que eu gosto”. E o filme em questão era o “Balas...” Acho que foi aí nesse momento que começou o meu amor pelos mocinhos e bandidos do cinema. Audie frio e infalível como matador de aluguel; a tensão aumentando gradativamente com ótimo final. Inesquecível...



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7.º) Nenhuma Mulher Vale Tanto (The Iron Mistress), 1952 – Gordon Douglas
O baixinho ‘invocado’ de novo... Sou suspeito de falar de Jim Bowie, pois como colecionador de facas, as minhas preferidas são as que levam seu nome. Belo filme que conta algumas passagens da atribulada vida de Mr. Bowie, herói do Álamo. Produção esmerada numa história cativante e ainda por cima contando com a beleza de Virginia Mayo. Filme imperdível!



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8.º) O Irresistível Forasteiro (The Sheepman), 1958 – George Marshall
Como listar dez grandes filmes de ‘caubói’ sem citar Glenn Ford? Eterno ídolo para nós westernmaníacos, inclusive já filmou em terras brasileiras, como todos sabem. A história remete ao preconceito contra os criadores de ovelhas, num ‘mundo’ dominado pelos grandes rebanhos de gado. O enredo foge um pouco dos clichês, inclusive com alguns momentos cômicos. Muito bom.



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9.º) Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country), 1962 – Sam Peckinpah
Nesse ótimo filme atuam juntos dois ícones do faroeste: Joel McCrea e Randolph Scott! Só por esse fato merece e muito ser assistido. Muito bom ver o confronto entre os dois protagonistas; ótima sequência no tiroteio final. Merece estar na prateleira e ser revisto.



* * * * *

10.º) O Dólar Furado (Um Dollaro Bucato), 1965 – Giorgio Ferroni


Ok, ok, posso estar ofendendo a muitos, mas com certeza, agradando outros tantos com essa escolha final. Apesar dos spaghettis não conseguirem chegar ao glamour dos americanos, reconheço que “O Dólar” marcou muitíssimo minha infância, pois foi um dos poucos que vi no cinema. E a música?? Ah, a música... Quem não a assoviou e torceu pelo mocinho injustiçado? Que atire a primeira pedra...




Obrigado ao WESTERNCINEMANIA pela oportunidade de fazer esta lista. Sei que todos têm seus preferidos no universo Velho Oeste, mas o que realmente importa é a alegria, diversão e emoção que sentimos em frente à tela, vendo nossos heróis lutarem contra o mal.


No vídeo abaixo Beto Montgomery interpreta um dos sucessos de seu ídolo Elvis Presley.




Beto e a estrela de John Wayne na Calçada da Fama, em Hollywood.

Beto Montgomery (1,78m) ao lado da figura em tamanho natural
do maior de todos os cowboys do cinema, John Wayne (1,94m).

Maravilhoso painel no Museum of Western Heritage de Los Angeles,
com Beto ao lado de seus ídolos.

Um cowboy entre cowboys: Beto com Sundance e Butch (Robert Redford
e Paul Newman) e com The Stranger (Clint Eastwood).

Beto Montgomery em seu tour pelos museus de westerns de Los Angeles.

Beto e Liz Taylor, a mais bela das Cleópatras.

Beto Montgomery em um dos muitos saloons do Velho Oeste
que conheceu nos Estados Unidos.

Aqui Beto Montgomery está no saloon 'Villa Country', em São Paulo.

O cavaleiro Beto Montgomery.

Vale a pena encontrar Beto Montgomery, não exatamente pela alta
recompensa, mas sim pela sua simpatia, simplicidade, generosidade e
grande conhecimento de cinema em geral e westerns em especial.

Os pardners Joaquim Murieta e Beto Montgomery 'enfrentam' o
'Rei dos Cowboys Brasileiros', Lazinho Kid Blue.

O trio de pardners Murieta, Montgomery e Kid Blue.