UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

28 de novembro de 2015

O VELHO OESTE RECEBE OS CIENTISTAS DE “O TÚNEL DO TEMPO” EM “BILLY THE KID”


Acima Irwin Allen; abaixo Whit Bissell,
John Zaremba e Lee Meriwether.
“O Túnel do Tempo” (The Time Tunnel) foi uma série de ficção científica que obteve enorme sucesso no Brasil nos anos 60. Curiosamente esse sucesso não ocorreu nos Estados Unidos, onde a série foi produzida pela ABC (American Broadcasting Company), ficando no ar apenas uma temporada e sendo cancelada devido à baixa audiência. Hoje essa série é considerada clássica e a caixa com os 30 episódios exibidos é uma das mais vendidas entre as séries que se tornaram ‘cults’. “O Túnel do Tempo” é uma sci-fi que leva seus dois personagens principais, os cientistas Dr. Tony Newman (James Darren) e Dr. Doug Phillips (Robert Colbert), a viagens no tempo, quase sempre ao passado, embora quatro episódios tenham transcorrido no futuro. Esse deslocamento era possível devido a um projeto ‘top-secret’ do governo norte-americano, comandado pelo General Heywood Kirk (Whit Bissell) que era assistido pelos cientistas Dr. Raymond Swain (John Zaremba) e Dr.ª Ann MacGregor (Lee Meriwether). Enquanto o trio permanecia no laboratório monitorando as viagens de Tony Newman e Doug Phillips, estes se envolviam em aventuras que invariavelmente poderiam alterar o rumo da História, o que não acontecia devido à diligente presença do General e dos dois cientistas.


Os 'cowboys' James Darren e
Robert Colbert.
No tempo do Velho Oeste - Das 30 histórias exibidas na série, quatro podem ser consideradas westerns e são elas: “Massacre”, com o General Custer e a carnificina de Little Big Horn; “O Álamo”, sobre o cerco das tropas mexicanas; “O Mercador da Morte”, focalizando a Guerra Civil; “Billy the Kid”. Outros dois episódios – “A Última Patrulha” e “Armadilha Mortal” – não são westerns legítimos; a primeira sobre a guerra anglo-americana de 1812 e a segunda fala de uma conspiração para assassinar o presidente Lincoln. Levado inúmeras vezes ao cinema e à televisão, o lendário bandido foi vivido, entre outros atores, pelos galãs Paul Newman, Robert Taylor e Val Kilmer (ver a lista completa neste blog na postagem indicada pelo link abaixo). O Billy the Kid do episódio de “O Túnel do Tempo” é Robert Walker Jr., filho do casal Robert Walker-Jennifer Jones e que apesar da ilustre ascendência e tendo iniciado a carreira aos 17 anos de idade, nunca alcançou o status de astro verdadeiro. Ao contrário dos ‘Billy the Kids’ aqui citados, o pequeno e magro Robert Walker Jr. se aproxima bastante fisicamente do verdadeiro William Bonner, embora fisionomicamente tenha passado longe da feiura do jovem sanguinário morto por Pat Garrett em 14 de julho de 1881.

http://westerncinemania.blogspot.com.br/2014/07/os-muitos-billy-kids-do-cinema.html

Robert Walker Jr. com Robert Colbert
e James Darren. 
Billy the Kid contra os cientistas - A máquina do tempo leva os doutores Tony Newman e Doug Phillips até o Condado de Lincoln, onde Billy the Kid se encontra preso. O bandido é libertado por membros de sua quadrilha, justamente quando os cientistas estão na delegacia, presenciando a cena. Billy tenta matar Tony mas é alvejado e morto por  Doug. No laboratório em Washington acompanha-se o entrevero e prontamente a Dr.ª Ann consulta livros e informa que Billy foi morto em outra circunstância. Os cientistas alteram os fatos ocorridos fazendo com que Billy sobreviva pois a bala disparada por Doug atingiu a fivela de seu cinturão. Billy acaba capturado pelos dois cientistas e quando Tony vai ao Condado de Lincoln em busca do xerife Pat Garrett, é confundido com Billy the Kid. A população local exige que o bandido seja enforcado, mas Pat Garrett, que foi amigo de Billy, sabe que não se trata do contumaz assassino, salvando a vida de Tony. Inconformado por ter sido vencido numa luta contra Doug, Billy retorna ao condado para matar o cientista desafiando-o para um duelo, sendo no entanto desarmado e preso por Pat Garrett. Quanto a Tony e Doug, desaparecem misteriosamente, sem deixar vestígios, como ocorria em todos os episódios, diante dos olhos das pessoas de Lincoln.

O cientista Dr. Phillips
matando Billy the Kid.
Fivela salvadora - Bastante criticada por privilegiar a visão de mundo norte-americana, independente de época e ainda por seu aspecto ultramoralista, a série “O Túnel do Tempo” procurava em seus episódios ser o mais fiel possível aos fatos. O produtor e criador da série Irwin Allen bem que poderia, por se tratar de uma ficção científica, se conceder liberdades com a História, mas isto somente acontece para possibilitar a inserção dos dois jovens cientistas nos acontecimentos do passado e criar suspense com os constantes riscos que atraem. Chegando sempre com seus trajes dos anos 60 do século 20, causam espanto e são alvo de chacotas, no caso de “Billy the Kid” o Dr. Doug Phillips é chamado o tempo todo de ‘Dude’ (janota) por Billy. E, como não podia deixar de ser, envolvem-se em confusões, desta vez com o Dr. Tony Newman sendo confundido com o próprio Billy. Quando o roteiro não encontra solução lógica, apela então para a providencial ação do staff que a tudo acompanha no laboratório em Washington. A fivela salvadora devolve a vida a Billy que foi atingido mortalmente à queima-roupa por Doug. Como máquinas costumam falhar em momentos importantes, isso ocorre quando o laboratório tenta intervir num momento em que Billy the Kid está prestes a matar Doug dentro de um rancho. Apela-se então para o recurso da voz e lá de Washington o General Kirk distrai o assassino e salva a vida de Doug. Os telespectadores brasileiros adoravam momentos como esse.

Final do episódio.

James Darren e Robert Colbert
Ator marcado pela série - James Darren era o preferido do público, ganhando maior destaque nos episódios, com Robert Colbert não raramente num plano secundário. Darren era boa pinta e estreara no cinema aos 20 anos, em 1956, sendo logo alçado à condição de galã, como em “Maldosamente Ingênua”, em que fez par romântico com Sandra Dee (‘Gidget’). Continuou namorando outras ‘Gidegts’ em sequências dessa série do cinema. Darren participou ainda da bem sucedida aventura “Os Canhões de Navarone”. Ter se afastado do cinema para estrelar “O Túnel do Tempo” não fez muito bem à carreira cinematográfica de James Darren que, a partir de então encontrou poucas oportunidades em filmes, dedicando-se mais a participações em séries de TV. Antes de atuar em “O Túnel do Tempo”, Robert Colbert foi chamado para interpretar Brent Maverick, um primo de Bret e Bart na série “Maverick”, mas a experiência durou apenas dois episódios. A bela Lee Meriwether atuou com John Wayne em “Jamais Foram Vencidos” (The Undefeated) e é lembrada também como a Mulher-Gato de “Batman, o Homem-Morcego”, filme de 1966. De 1973 a 1980, Lee foi Betty Jones, nora do famoso detetive interpretado por Buddy Ebsen em 178 episódios da série “Barnaby Jones”.

Robert Walker Jr.
Série recomendada por professores - O episódio “Billy the Kid” foi dirigido por Nathan Juran, que dirigiu um total de cinco episódios de “O Túnel do Tempo”. Nathan Juran era austro-húngaro de nascimento e formado em Arquitetura começou no cinema como diretor de arte, recebendo um Oscar pela Direção de Arte de “Como Era Verde o Meu Vale”, em 1941. Como diretor dirigiu três westerns estrelados por Audie Murphy e posteriormente especializou-se em filmes e séries de ficção científica, trabalhando bastante para o produtor Irwin Allen. Nos anos 60 a televisão primava pela economia em suas produções e os computadores que se vê em “O Túnel do Tempo” são os mesmos que foram usados em “Viagem ao Fundo do Mar” e “Perdidos no Espaço”. E fariam parte de “Terra dos Gigantes”, todas elas séries criadas e produzidas por Irwin Allen. E muitas das sequências usadas nas viagens pelo tempo de Tony Newman e Doug Phillips eram cenas de arquivo de filmes da 20th Century-Fox, que coproduzia a série. O tema de “O Túnel do Tempo” foi criado por John (Johnny) Williams, compositor que concorreu, até 2015, 41 vezes ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Musical, vencendo esse prêmio em cinco oportunidades. Já esta série criada por Irwin Allen venceu o Emmy de Melhores Efeitos Especiais de 1967, mas o prêmio maior é o carinho permanente dos antigos fãs e dos novos que “O Túnel do Tempo” conquista a quem a assiste pela primeira vez. Estavam certos os professores de História que indicavam a série para seus alunos, como as mais divertidas das aulas.


OUTROS EPISÓDIOS 'WESTERNS' DE "O TÚNEL DO TEMPO"

"O Álamo" com James Darren com Jim Davis (Jim Bowie) e Rhodes Reason
(William Barrett Travis); na outra foto Darren com Alberto Monte.

Episódio "Massacre" no qual o General Custer é interpretado por Joe Moross.

"O Mercador da Morte", episódio em que os dois jovens cientistas se vêem
envolvidos na batalha de Gettysburg, em plena Guerra Civil.

"Armadilha Mortal", episódio que focaliza Abraham Lincoln, interpretado por
Ford Rainey e com R.G. Armstrong como um detetive da Agência Pinkerton.

No episódio "A Última Patrulha" Carroll O'Connor interpreta um papel duplo
e Michael Pate também está no elenco.


Lee Meriwether, a mais maravilhosa cientista de uma série de TV.


Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Ivan Peixoto.

25 de novembro de 2015

JURAMENTO DE VINGANÇA (MAJOR DUNDEE), O WESTERN ÉPICO DE SAM PECKINPAH


Somente 40 anos depois de seu lançamento, em 1965, o público pode conhecer a versão que mais se aproximava do que Sam Peckinpah pretendia com “Juramento de Vingança” (Major Dundee). Em 2005, com a Columbia Pictures já tendo sido absorvida pelo grupo Sony, o mutilado filme de Peckinpah foi relançado em uma versão restaurada e com 136 minutos de duração. Todos aqueles que conheciam apenas a versão com 123 minutos (ou ainda menor), tiveram a oportunidade de assistir a um filme mais coerente com a adição de inúmeras sequências que desfizeram, em parte, a impressão que “Juramento de Vingança” tinha lacunas berrantes ao narrar a história do obcecado Major. Talvez algum dia ocorra o lançamento da ‘Director’s Cut’, a versão de 152 minutos concebida por Peckinpah e aí sim, será possível uma análise definitiva desse controvertido western. A ‘Restored Cut’  de 2005, no entanto, confirma que o diretor tinha razão ao solicitar a retirada de seu nome dos créditos da amputada edição realizada pela Columbia Pictures.


Charlton Heston, Richard Harris e
Michael Pate
Remissão de um fracasso - Nos estertores da Guerra Civil norte-americana, o Major Amos Charles Dundee (Charlton Heston) é designado para o comando do Forte Benlin, espécie de punição por sua falha participação na Batalha de Gettysburg. Esse forte, isolado no Novo México, serve como prisão para soldados confederados capturados, o que faz de Dundee um mero carcereiro distante das glórias que a guerra pode trazer aos oficiais vitoriosos. O chefe Apache Sierra Charriba (Michael Pate) com seus guerreiros vêm, há tempos, causando pânico ao Exército ao derrotar unidades que vão ao seu encalço, além de exterminar barbaramente famílias de sitiantes. O Major Dundee entende que eliminando Sierra Charriba Washington possa esquecer sua malfadada participação em Gettysburg e decide montar um destacamento para perseguir o Apache. Sem poder desfalcar o pequeno contingente do Forte Benlin, Dundee é obrigado a aceitar na recém criada unidade bêbados, ladrões, criminosos, soldados inexperientes, soldados negros e mesmo prisioneiros confederados que aceitem incursionar pelo México sob o comando nortista. Entre este últimos está o Capitão Benjamin Tyreen (Richard Harris), outrora companheiro de farda e, durante a guerra, inimigo mortal do Major Dundee. Tyreen promete a Dundee que, cumprida a caça a Charriba, matará o Major. Atravessando a fronteira à procura dos Apaches, o destacamento se depara com oficiais e soldados do Imperador Maximiliano em um povoado mexicano, aos quais expulsa do local. Com isso a unidade comandada por Dundee desperta a ira dos franceses que não aceitam a invasão de soldados norte-americanos no país por eles dominado. Após emboscar e matar Sierra Charriba, Dunde e sua unidade tentam retornar aos Estados Unidos mas são cercados pelas tropas francesas de Maximiliano, travando-se sangrenta, ainda que desigual, batalha. Com as muitas baixas nesse confronto, o Major Dundee consegue retornar com apenas dez soldados sobreviventes após cumprir a missão que ele próprio se delegou como razão de sua vida.

O Forte Benlin
O forte-calabouço - “Juramento de Vingança” se desenrola admiravelmente durante a primeira parte quando é delineada a personalidade do Major Dundee com sua doentia necessidade de afirmação com um ato de heroísmo. Não muito diferente é a disposição do Capitão Tyreen de resolver seu conflito pessoal com o Major que o mantém prisioneiro. O Forte Benlin é um enorme calabouço, o que faz com que a vida na caserna vista aqui em nada lembre a poética rotina dos fortes da Trilogia da Cavalaria de John Ford, muito pelo contrário. Uma centena e meia de homens, quase a metade deles soldados sulistas feitos prisioneiros, tomam banho coletivamente em grandes tanques e sujam suas botas ao caminhar pelo enlameado chão do forte. Formado o grupo que seguirá as ordens do Major Dundee em terras mexicanas, a tensão aumenta pela convivência de homens sem a menor afinidade e sempre prontos a explodir por ódio racial, pela humilhação de lutar por uma bandeira que não é a sua no caso dos sulistas e pela insatisfação com a missão que só atende aos anseios do Major. Iniciada a incursão somam-se as dificuldades naturais da longa empreitada e os riscos inevitáveis contra emboscadas apaches e encontros com soldados franceses. É nessa metade inicial que “Juramento de Vingança” promete ser um épico grandioso.

Acima Senta Berger com Charlton Heston;
abaixo Michael Anderson Jr. com
Begonia Palacios.
Roteiro improvisado - Após o término das filmagens de “Juramento de Vingança”, Charlton Heston declarou que aquela havia sido a primeira e a última vez em que aceitara trabalhar em um filme com um roteiro não terminado. Esse é o problema maior do western de Peckinpah que foi filmado com um script sendo improvisado a cada sequência e que se perde ao criar situações alheias à perseguição a Sierra Charriba. O conhecido apego de Peckinpah à cultura e ao povo mexicano fez com que ele criasse a passagem pelo povoado mexicano, esticando-a visível e desnecessariamente. Em “Meu Ódio Será sua Herança” (The Wild Bunch) o diretor usou sequência idêntica mas de forma concisa e com resultado tocante. Em “Juramento de Vingança” foram criadas sequências que não estavam no roteiro para que Begonia Palácios, por quem Peckinpah se apaixonou durante as filmagens, pudesse aparecer mais tempo na tela. Nada porém, que se compare à presença igualmente inócua Senta Berger interpretando Teresa Santiago, a viúva de um médico mexicano que a conheceu quando ele estudava em Viena. Teresa torna-se juarista, o que não a impede de atrair tanto Dundee quanto Tyreen. Neste caso a culpa certamente é da Columbia que extirpou tantas sequências preciosas (segundo Charlton Heston) mas manteve o ‘interesse romântico’ com os dois inimigos e a envolvente atriz austríaca.

Nas fotos acima a partida a aldeia mexicana; abaixo cenas da 'fiesta'.

Acima Warren Oates;
abaixo John Davis Chandler e Brock Peters.
Sem slow-motion - Um grande filme é, invariavelmente, composto de sequências brilhantes, mas “Juramento de Vingança” comprova que um punhado de sequências capazes de impressionar não são suficientes para fazer um grande filme se não perfizerem um todo bem estruturado. Entre os melhores momentos deste filme está a sequência em que soldados confederados, em menor número, provocam os ianques cantando o “Dixie” tendo suas vozes superadas quando os nortistas entoam “When Johnny Go Marching Home”; outros bons momentos ocorrem com o soldado confederado Jimmy Lee (John Davis Chandler) menosprezando o soldado negro nortista Aesop (Brock Peters), recebendo um brutal corretivo do reverendo Dahlstrom (R.G. Springsteen); ou ainda com o sulista Hadley (Warren Oates) prestes a ser executado após desertar do grupo e ser morto pelo Capitão Tyreen, evitando assim a eminente execução. E finalmente as sequências de batalhas que, mesmo curtas e criminosamente editadas sem as filmagens em câmara lenta, são brilhantes, trabalho da segunda unidade dirigida pelo especialista Cliff Lyons, o mesmo de “O Álamo” e “Os Comancheiros”, entre outros. Em seus próximos filmes Sam Peckinpah mostraria ser o grande mestre no uso do slow-motion em cenas de ação.

Aspectos da batalha dirigida por Cliff  Lyons, diretor da segunda unidade.

James Coburn
Excesso de bons atores - O pretendido microcosmo da América que Peckinpah pretendeu mostrar com o destacamento do Major Dundee deixou de ser desenvolvido a contento e isso se deve ao elenco excelente que foi reunido ser grande demais. Ainda que alguns atores viessem a ganhar renome posteriormente, muitos em filmes dirigidos pelo próprio Peckinpah, é extensa a lista de nomes que mereceriam mais tempo na tela, caso de James Coburn, Ben Johnson, Brock Peters, Warren Oates, Karl Swenson, Dub Taylor, Slim Pickens e Michael Pate, alguns deles fazendo praticamente figurações. Ainda assim Dundee reuniu um ‘seleto’ grupo de homens que, de alguma forma não se enquadram nos meios em que vivem. Soldados em sua maior parte, não é demais lembrar dos ‘doze sujos’ que Lee Marvin comanda no muito mais bem sucedido “Os Doze Condenados” de Robert Aldrich, rodado dois anos depois. Ainda assim Peckinpah discute seus temas preferidos que são a lealdade e a redenção só encontrada com a morte.

Na foto menorBrock Peters; R.G. Armstrong e Dub Taylor; na foto maior
L.Q. Jones, Ben Johnson, Richard Harris, John Davis Chandler e Warren Oates.

Charlton Heston e Richard Harris
Heston sincero, Harris afetado - Nenhum outro ator era capaz de criar tipos íntegros, bravos e com a aura de invencíveis como Charlton Heston. ‘Amos Dundee’ exigiu um pouco mais do celebrado Heston pois o Major é um homem atormentado por seu fracasso militar, humilhado pela posição a que foi relegado e determinado a levar adiante seu obsessivo desejo de provar coragem e capacidade de estrategista. E Dundee não vê limites para concretizar seu objetivo, ainda que sua vitória final seja uma típica ‘Vitória de Pirro’ com o retorno de um pequeno grupo de soldados e o sacrifício de dezenas de outros. Heston convence com sincera interpretação, uma das melhores de sua carreira, superando a dificuldade de ser na tela um homem de poucos escrúpulos. Richard Harris afetadíssimo como o oficial sulista de sangue irlandês tem boa presença. O restante do vasto elenco só não é homogêneo devido às presenças apalermadas de Jim Hutton e Michael Anderson Jr. Decididamente é da belíssima Senta Berger a pior interpretação do filme, não tendo uma única fala coerente numa película em que não faltam frases bisonhas dignas de um roteiro de quinta categoria.

Algumas das terríveis frases do roteiro de "Juramento de Vingança".

Sam Peckinpah
Ensaio para uma obra-prima - É interessante assistir às versões mais longa e mais curta de “Juramento de Vingança” e, além das muitas sequências que não estão na versão menor, há ainda a trilha sonora musical inteiramente diferente. Na exibida no lançamento e que circulou pela televisão, quem assina a trilha é Danielle Amphiteatrof; já na ‘Restored Cut’ esse trabalho ficou a cargo de Christopher Caliendo, com visível influência de Jerry Fielding, que compôs muitas das trilhas musicais dos filmes de Peckinpah. Também por essa razão, a trilha de Caliendo é infinitamente superior, longe do bombástico trabalho do russo Amphitheatrof, na linha de Max Steiner. Peckinpah queria Lucien Ballard como diretor de fotografia, mas a Columbia lhe impôs Sam Leavitt e o resultado deixa a desejar na pouco inspirada captura das paisagens mexicanas. Fundamental para quem pretende conhecera obra do polêmico diretor, hoje no panteão dos grandes realizadores de faroestes de todos os tempos, “Juramento de Vingança” é um vasto campo de estudo para que se entenda não só o sistema de Hollywood mas também um artista com a personalidade e as pretensões estéticas de Sam Peckinpah. E importante ainda porque certamente sem passar pelo que passou com este filme, Sam Peckinpah dificilmente realizaria aquele que é um dos mais perfeitos espetáculos cinematográficos de todos os tempos, “Meu Ódio Será Sua Herança”, marco do gênero e da própria história do cinema.

Acima Charlton Heston e abaixo diversos pôsteres de "Major Dundee".





A cópia de "Juramento de Vingança" foi gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Marcelo Cardoso.

21 de novembro de 2015

SAM PECKINPAH E SUA VIAGEM AO INFERNO


Acima Erich von Stroheim;abaixo
Orson Welles com Tim Holt.
Certos filmes tornam-se lendários mais por tudo que se passou nos bastidores do que pelo que se vê na tela depois de pronto para distribuição. “Ouro e Maldição”, de Erich von Stroheim e “Soberba”, de Orson Welles são dois bons exemplos de obras renegadas por seus autores após os estúdios que os produziram reduzirem suas metragens originais. O filme de Stroheim foi lançado em 1925 pela MGM com 130 minutos de duração e só em 1999 pode ser visto com os 239 minutos que o diretor queria. Já o segundo filme de Welles, de 1942, foi reduzido pela RKO de 148 minutos para ridículos 88 minutos. Sam Peckinpah juntou-se a esses diretores malditos com “Juramento de Vingança” (Major Dundee), que lançado com 123 minutos teve um relançamento em edição restaurada com 13 minutos a mais. Ainda assim faltando 16 minutos da versão que Peckinpah editou e que, exceto o staff da Columbia, o público nunca conseguiu ver. Para entender a razão da atitude da Columbia, é necessário falar um pouco dos bastidores desse filme que resultou num verdadeiro inferno para quantos dele participaram.

Alguns dos locais escolhidos por Peckinpah
que serviram de cenário para
"Major Dundee".
As escolhas de Peckinpah – O escritor Harry Julian Fink escreveu uma pequena história, quase uma sinopse, com 37 páginas sobre uma incursão da Cavalaria em território mexicano para exterminar um grupo de apaches liderado pelo temido Sierra Charriba, cuja ação se passava no final da Guerra Civil. A Columbia se interessou pela história e logo pensou em John Ford para dirigi-la e um grande astro interpretando o Major Dundee, o oficial que comandou a caça aos apaches. John Ford não pode aceitar porque já havia assumido compromisso com a produção de “Crepúsculo de uma Raça” (Cheyenne Autumn). Pensou-se então no jovem diretor Sam Peckinpah que se tornara respeitado por seus trabalhos como escritor e diretor de séries de TV, firmando-se com “Pistoleiros do Entardecer” (Ride the High Country). Charlton Heston foi contratado para ser o Major Dundee e seu contrato, como o de todo grande astro, previa que ele tinha o direito de aprovar o diretor. Heston não havia visto “Pistoleiros do Entardecer” e após uma exibição especial para ele ficou deslumbrado com o filme e aprovou o nome de Sam Peckinpah. Heston Mal sabia que indiretamente dava início à mais tumultuada produção de sua vida, ele que participara, mais que nenhum outro ator, de filmes grandiosos. Contratado como diretor, Peckinpah exigiu que o roteiro fosse inteiramente refeito, chamando para isso Oscar Saul. Sam e Saul esticaram a história para 167 páginas. Outra exigência de Peckinpah foi a escolha dos locais de filmagem, todos no México, uns centenas de quilômetros distantes do outro. Morellos, Guerrero, Nuevo León, Durango e Rio Balsas foram os locais escolhidos, o que indicava que “Major Dundee” seria uma superprodução.

Richard Harris com correntes nas mãos ao
lado do produtor Jerry Breslin.
‘Suma daqui, Sr. Produtor’ - A Columbia tencionava lançar “Major Dundee” como ‘road-show’, ou seja, filme com grande campanha publicitária e exibido por várias semanas em um cinema especial em cada grande cidade, entrando no circuito normal de salas menores seis meses depois do lançamento. Ocorreu então a mudança do diretor de produção da Columbia, sendo Mike Frankovich o novo encarregado de traçar os rumos no estúdio. Frankovich era partidário da economia entendendo que cada vez mais o cinema perdia público e fechavam-se salas de exibição, sendo temerário investir muito dinheiro (quatro e meio milhões de dólares) em um western. O orçamento de “Major Dundee” foi reduzido para três milhões de dólares e 60 dias de filmagem ao invés dos antes previstos 75 dias. Técnicos e atores chegaram a Morellos em 6 de fevereiro de 1964 para o início das filmagens e após uma semana quase nada havia sido filmado, o que fez com que a Columbia mandasse o produtor Jerry Bresler ao local para ver o que estava acontecendo. Bresler descobriu que só naquela primeira semana Peckinpah havia demitido oito técnicos e mal suspeitava que seria ele, Bresler, o próximo ‘demitido’ pois Peckinpah disse ao produtor que somente voltaria a trabalhar quando ele sumisse de lá.

Heston conversando com Peckinpah.
Diferente de Orson Welles - Sam Peckinpah havia sido comparado por críticos apressados a Orson Welles. Charlton Heston que trabalhara com Welles em “A Marca da Maldade” afirmou, anos depois, que Sam Peckinpah era talentoso e criativo, mas não poderia nunca ser comparado ao diretor de “Cidadão Kane”. E muito menos ser chamado de gênio como Welles era tratado. Heston jamais entendeu a razão do ódio que Peckinpah devotava aos produtores e executivos dos estúdios. Welles também abominava essas categorias, mas sabia de onde vinha o dinheiro e os tratava sempre com fidalguia, ao contrário de Peckinpah que era a fúria em pessoa. Profissional correto que sempre foi, Heston disse que não aprovava os atrasos de Peckinpah que se apresentava sempre com, no mínimo, meia hora de atraso, deixando todos no set esperando. E quando chegava entornava xícaras e mais xícaras de café para se recompor da normal bebedeira da noite anterior.

Acima Charlton Heston;
abaixo James Coburn.
Sem banho e sem descanso - Com a irracional logística e a irascibilidade de Peckinpah, ninguém tinha dúvidas que o cronograma não seria cumprido. E sabia-se também que Charlton Heston tinha data marcada para deixar o México e se tornar Michelangelo Buonarroti em seu próximo filme, ironicamente intitulado “Agonia e Êxtase”. Esses fatos levaram Sam a filmar num ritmo um pouco mais apressado e por isso mesmo descuidado, ainda que observasse detalhes importantes como o aspecto dos atores no filme. Sam queria que eles se sentissem como se estivessem vivendo de verdade aquela jornada infernal. Charlton Heston chegou a ficar cinco dias sem tomar banho e quase sem tirar as botas para melhor encarnar o  maltratado Dundee que Peckinpah queria. O Rio Balsas era sujo e malcheiroso e todos tinham que entrar e sair do mesmo nas cenas de batalha contra os franceses. Ruim para os atores, pior para as duas dúzias de stuntmen, dirigidos por Cliff Lyons, que chegaram a fazer até dez cenas por dia cada um, caindo dos cavalos no Rio Balsas e trocando de fardas para novas cenas. Sam poderia adorar o México sua cultura, comida, bebida e mulheres (inclusive Begonia Palácios), mas o resto da equipe estava apenas fazendo um trabalho extenuante e em condições precárias de alimentação e higiene. A Columbia havia desistido de controlar Peckinpah e, rezava que ele concluísse o filme. Contava-se os dias para a tomada final de “Major Dundee” com Sam conseguindo arrastar a produção até o dia 29 de abril, ou seja, três meses de uma lenta agonia naquele verdadeiro inferno gerenciado por um homem verdadeiramente enlouquecido. Quando as filmagens terminaram não houve a tradicional festa de encerramento pois todos literalmente fugiram do México. James Coburn disse que foi embora sem se despedir de Peckinpah com medo que ele o chamasse para refilmar alguma cena ou filmar as sequências que deixaram de ser filmadas. Porém nem mais um metro de filme seria rodado uma vez que o custo final havia chegado a exatos 4,5 milhões de dólares. E isso custaria ainda mais caro para Peckinpah quando chegasse a hora da vingança dos executivos da Columbia Pictures.

Jim Hutton
Concepções diferentes - Segundo observou Charlton Heston, Orson Welles possuía um jeito especial de tratar atores e técnicos, fazendo com que eles o adorassem, enquanto Sam Peckinpah guerreava o tempo todo com todos a seu redor. Desagradava também a Charlton Heston o fato de o roteiro de “Major Dundee” nunca ter ficado pronto de verdade pois Peckinpah alterava diariamente o original, isto porque a Columbia projetava um tipo de filme e Peckinpah queria outro. Para o estúdio “Major Dundee” deveria ser um filme sobre índios e cavalaria, no estilo criado por John Ford, enquanto Peckinpah, como bem lembrou R.G. Armstrong, tinha em mente fazer uma espécie de Moby Dick a cavalo. Um dos mais educados atores do cinema, Charlton Heston não abria mão do respeito aos semelhantes e começou a ficar irritado com a forma como Peckinpah tratava a todos, como fez por exemplo certo dia com Jim Hutton. Peckinpah amava os faroestes mas estranhamente não gostava de cavalos pois tinha medo deles. Numa sequência, Jim Hutton teve alguma dificuldade com o cavalo que montava e o animal acabou se aproximando muito da cadeira onde Sam estava sentado, quase pisoteando o diretor. Este sacou um revólver com balas de festim que estava pendurado na sua cadeira e fez dois disparos, assustando o cavalo que acabou derrubando Jim Hutton que sofreu uma luxação leve. Em outra ocasião aconteceu a já lendária história em que Charlton, a cavalo e com o sabre na mão, avançou para cima de Peckinpah, tudo devido ao descontrolado comportamento do diretor.

Acima Charlton Heston;
abaixo Sam Peckinpah.
‘Isto era para você, Sam!’ - Numa tarde, quando o sol estava se pondo, Sam pediu a Heston para descer uma colina trotando seu cavalo e comandando sua tropa que o acompanhava. Para essa sequência de grande plasticidade eles tinham apenas 20 minutos para filmá-la, tempo que o sol levaria para se esconder. Quando Heston se aproximou trotando seu cavalo, Sam esbravejou: “Ficou uma merda! Chuck, você desceu muito devagar”. Heston respondeu: “Sam, você pediu para descer com a tropa trotando, foi o que eu fiz”. Peckinpah respondeu aos gritos: “Uma porra que eu disse isso. Você é um mentiroso desgraçado”. Ao ouvir essas palavras Heston deu meia volta recuando 50 metros, tirou o sabre da bainha, pediu aos demais cavaleiros para segui-lo e com o sol ainda se pondo avançou a galope em direção à câmara onde Peckinpah  estava sentado. Ao perceber que o ator vinha em sua direção sem diminuir o galope, Sam se levantou da cadeira gritando desesperado para o cinegrafista filmar aquilo. Heston desferiu então um violento golpe de sabre no ar como quem diz: “Isto era para você, Sam”. Claro que dali para diante Peckinpah nunca mais ofendeu Charlton Heston.

Begonia e Sam.
Uma desconhecida ternura - Sam Peckinpah só se acalmava quando surgia nos locais de filmagem Begonia Palácios, uma jovem atriz mexicana de 23 anos, sempre acompanhada pela mãe. Begonia interpretava Linda, um personagem inexpressivo de “Major Dundee”. L.Q. Jones e Warren Oates, amigos de copos e copos de tequila, eram os confidentes de Peckinpah que lhes falava da moça cheio de uma, até então, desconhecida ternura. O diretor aumentou consideravelmente o papel de Begonia no filme para poder ficar mais tempo perto dela. Finalmente os dois começaram a namorar, o que não ajudou em nada no desenvolvimento da produção mas mostrou que ‘Bloody Sam’ não era insensível como gostava de demonstrar. Sam e Begonia se casariam em 1965.

Sam Peckinpah
O estúdio mutila “Major Dundee” - O estúdio havia determinado que algumas cenas do roteiro não seriam editadas, como o prólogo em que um destacamento da cavalaria chega ao rancho da família Rostes durante uma festa. Algumas crianças brincavam vestidas como apache quando repentinamente Sierra Charriba e seus guerreiros atacam exterminando a todos, exceto o único sobrevivente, o corneteiro Tim Ryan e três meninos sequestrados. Esta sequência não filmada justificaria a determinação de Dundee em sua aventura para resgatar as crianças e capturar o chefe apache. A Columbia considerou a sequência extremamente violenta, além de não aceitar que o personagem principal (Dundee) somente aparecesse meia hora depois do início do filme. Peckinpah entregou à Columbia mais de quatro horas de material filmado e o estúdio escalou o seu chefe do departamento de edição William Lyon para coordenar diretamente os trabalhos de edição dos mais de 400 mil pés de filme, auxiliado por dois dos melhores editores do estúdio. Bresler orientou a edição para cortar as cenas mais violentas que refletiam a sádica e doentia visão de Peckinpah. Foram reduzidas cenas importantes como a captura dos cinco prisioneiros confederados; a cena de brinde feita entre um confederado, um negro e um unionista; a cena em que Dundee tenta em vão fazer uma mula se movimentar; uma luta a faca entre o batedor Potts (James Coburn) e o sargento Gomez (Mario Adorf); a longa caminhada de Dundee por Durango, embriagado e relembrando momentos de sua vida de soldado; Gomez e Potts também bêbados, conversando numa bodega em Durango; o encontro do corpo mutilado de Riago, o batedor apache.

Uma das centenas de quedas de cavalo
filmadas sob a direção de Cliff Lyons.
No lixo todo o slow-motion - Danos ainda maiores sofreram as sequências de batalha contra o exército francês, para as quais Sam utilizou cinco câmaras, três delas em diferentes velocidades de slow-motion. Jerry Bresler ordenou a William Lyon que todas as tomadas em slow-motion fossem ignoradas, editando-se apenas as cenas filmadas em velocidade normal. Cliff Lyons foi o responsável pela coreografia das cenas de batalha, assim como havia feito em “O Álamo”, de John Wayne. Essa batalha que seria o clímax de “Major Dundee”, ocupou cinco dias de filmagens e para muitos que dela participaram, seria uma das melhores que o cinema teria visto. Na sala de edição da Columbia a batalha dura meros sete minutos ficando difícil avaliar como o confronto ficaria com as tomadas em slow-motion que foram desprezadas. Com tantos cortes, a primeira versão foi reduzida a 156 minutos com a aprovação mesmo a contragosto do diretor que acreditava que “Major Dundee” ficaria com aquela metragem. O ator L.Q. Jones havia lembrado ao amigo Sam que não adiantava muito brigar com Bresler e com a Columbia pois, pelo contrato, cabia ao estúdio o direito da edição final do filme.

Sam Peckinpah
A vingança da Columbia - Peckinpah apostava nas duas previews de “Major Dundee” (exibições para serem avaliadas por um determinado público). Uma das previews ocorreu na Califórnia e a outra em Nova York com a presença de Jerry Bresler que levou uma edição diferente daquela aprovada por Peckinpah. A reação do público foi negativa e “Major Dundee” foi reeditado sofrendo novos cortes e sendo lançado com 136 minutos de duração e praticamente sem nenhuma publicidade. Sam Peckinpah escreveu uma carta a Mike Frankovich e não obteve resposta. Foi então ao estúdio para falar pessoalmente com Frankovich e, suprema humilhação, o homem forte da Columbia havia dado ordens para não permitir a entrada de Peckinpah no estúdio. O diretor foi barrado na portaria, sendo orientado a retirar ali mesmo uma caixa com seus pertences e sendo lembrado que não possuía mais vínculo com o estúdio. Peckinpah lia as críticas quase todas negativas a “Major Dundee”, algumas como a da revista Newsweek arrasando o filme, taxando-o de catástrofe. Peckinpah então escreveu para praticamente todos os críticos norte-americanos explicando o que a Columbia fizera com seu filme e alguns críticos até reviram suas resenhas originais amenizando as críticas. O público, por sua vez, praticamente ignorou o filme, o que fez a Columbia retirar “Major Dundee” de exibição, remontá-lo pela terceira vez, agora com 123 minutos, tentando com isso tornar o filme mais ao gosto das platéias. Essa versão (que foi lançada no Brasil), ficou fragmentada e incoerente, isto apesar da narração feita pelo soldado Ryan que a Columbia inventou para tentar fazer o público entendê-lo. Nada disso adiantou e o épico dirigido por Sam Peckinpah mal arrecadou 1,6 milhão de dólares em seu primeiro ano de exibição, ou seja, um terço do que foi gasto em sua produção.

Sam Peckinpah
Quatro anos desempregado - Nas entrevistas que deu posteriormente a essas edições, Peckinpah afirmou que não reconhecia o filme como dele e que se sentia como um pai que vê um filho ter todos os membros mutilados. Mesmo com seu nome começando a ficar marcado pelos estúdios, Sam teria nova oportunidade quando o produtor Martin Ransohoff o contratou para dirigir o drama “A Mesa do Diabo” (The Cincinatti Kid), estrelado por Steve McQueen. Nem bem começaram as filmagens e Peckinpah se desentendeu com o produtor sendo despedido no quinto dia de trabalho. Com mais este incidente, Sam se tornara um diretor maldito em Hollywood. Peckinpah ficou sem dirigir por quatro anos, até que em 1969 retornou em grande estilo realizando um verdadeiro marco cinematográfico que foi “Meu Ódio Será Sua Herança”. Após o excepcional êxito de crítica de “The Wild Bunch”, a Columbia, agora não mais dirigida por Mike Frankovich, que passara à condição de produtor independente, chamou Sam Peckinpah para que ele orientasse uma nova e definitiva edição de “Major Dundee”, o que não foi aceito pelo diretor, talvez consciente que jamais conseguiria fazer de “Dundee” o épico sonhado. Charlton Heston foi quem teve a sensibilidade de perceber que Peckinpah tentara fazer com “Major Dundee” o que só conseguiria com a irretocável obra-prima “Meu Ódio Será Sua Herança”.